sábado, 29 de outubro de 2016

ZZzzZZzz ron-ron

zZzêm surgido na região dúvidas sobre a aposta nos cruzeiros pela hipotética baixa nas despesas dos passageiros, com a ideia fixa de que a contenção de despesas não deve atingir esta indústria quando se assiste à sua democratização.

Vamos ponderar com números e factos. Se um investimento alheio disponibiliza o cruzeirista no Porto do Funchal a custo zero, quando existe uma nula promoção da região neste sector turístico, então estaremos a falar de um negócio da China. Que tipo de China queremos? Com despesa cá ou com a deslocalização de navios para a Ásia onde o mercado de cruzeiros sextuplicou em 10 anos? Quando a descida das escalas no Funchal é um facto, a demanda por cruzeiros cresceu 68% nos últimos 10 anos. As duas zonas geográficas mais populares são as Caraíbas com 33,7% do total mundial e o Mediterrâneo, que beneficia a nossa localização, com 18,7%. Entre 2008 e 2014, os cruzeiros ultrapassaram em 22% as viagens tradicionais nos Estados Unidos, que estão sempre um pouco à frente nas tendências. A Europa, principal fabricante de navios, tem um crescimento a caminho de anémico, no que diz respeito a turismo nesta área, devido à sua zona mais forte (Mediterrâneo) estar a somar um grande número de portos instáveis. Daí a deslocalização de navios para outras zonas em consideração ao cliente americano que preenche boa parte dos navios na Europa.


O que se sabe sobre o perfil consumista dos cruzeiristas nas escalas no Funchal? Tendo por fontes as companhias de cruzeiro e a CLIA, cada um gasta em média 50€ nas escalas no nosso porto quando a média mundial é de 124€. Há muito trabalho por fazer aqui, a Madeira dorme. 97% dessa despesa é em terra, denunciando que a larga maioria desembarca. Desse montante, 70% é aplicado em bebidas e refeições, o restante em tours organizados ou apeados. Cada navio médio deixa por escala uma média de 85.000€ na economia local. Neste valor não constam as taxas da APRAM (42 milhões/ano) nem estão contabilizados os serviços dos agentes de navegação. As companhias omitem o volume de negócios com os seus tours, dos quais cedem uma comissão ao prestador de serviço local. Quanto mais exclusivo for o navio (mais pequeno) mais despesa tende a realizar o passageiro mas, os navios maiores geram valores globalmente superiores. Todo mercado interessa.

O cruzeirista que visita a Madeira é maioritariamente alemão ou inglês, com idade média de 55 anos, metade deles com curso superior, só depois surgem os aposentados. 80% destes, auferem no agregado familiar mais de 3200€ mensais, 50% mais do que 6000€, o que indicia que o cruzeirista não é um "teso” mas gere racionalmente o seu dinheiro, cabe ao destino ser apelativo ao consumo. Necessitamos de mais informação através de um relacionamento estreito com os departamentos de “Shore Excursions” e disponibilizar mais informações nos navios. A Madeira dorme. 87% dos cruzeiristas que vêm à Madeira estão fidelizados a este tipo de turismo dos quais, cerca de 69%, indicam visitar a Madeira pela primeira vez. Num estudo efectuado pela CLIA, os cruzeiristas estabelecem como razões da sua opção por cruzeiros o desejo de explorar vários destinos por instintos de aventura, a necessidade de descanso ou de quebra nas rotinas e, ainda, a adesão ao conceito de acessibilidade em conforto (um hotel itinerante). Transversalmente aos impulsos que levam à opção pelos cruzeiros, os seus passageiros procuram desfrutar de natureza e paisagem que lhes proporcionem um relaxamento. Ainda no perfil do cruzeirista, sabe-se que viajam maioritariamente casais e que 62% revisitaram um destino de que gostaram num cruzeiro de forma tradicional, hotel e voo para o destino. A Madeira dorme. Atenção ao betão! Nada é por acaso. Os reposicionamentos, neste momento, estão a privilegiar a natureza, é um sinal. Os cruzeiros são, em viagem, um prospecto para outras viagens tradicionais.

A publicidade gratuita gerada pelos cruzeiristas, narrando experiências ou influenciando directamente escolhas, abrange um universo de 7 milhões/ano. A fidelização e a actividade comercial das companhias, sobre a nossa área geográfica de conveniência, incidem a promoção sobre 210 milhões de potenciais clientes por temporada.


Umas últimas palavras para os tripulantes. Saiba que a idade média dos que aqui desembarcam, embarcam ou gozam folga é de 35 anos, são asiáticos (sobretudo Filipinas, Índia e Indonésia), têm curso superior (82%) e a vida a bordo garante-lhes um rendimento que não teriam nos países de origem na sua profissão. A despesa média destes sobe para 65€ na escala no Funchal porque temos boa fama para compras. 71% do valor destina-se a bebidas e comidas, o restante em shopping (supermercado/ gadgets). Note-se que muitas vezes os tripulantes realizam favores que provocam despesas por outros em serviço ou familiares. Estas tripulações deixam, em média, 36.000€ por escala. Notável! A Madeira dorme, tudo despenca ao acaso.

A esmagadora maioria dos cruzeiristas e tripulantes ficam agradados com o nosso destino, o que confirma que a descida das escalas dos navios de cruzeiro no Funchal prende-se com a política comercial (rentabilidade das companhias) e segurança da zona (influência do Mediterrâneo), não com o nosso destino mas, atenção que há queixas do nosso porto. Não fazer promoção séria, individualmente e em conjunto com os portos dos itinerários da nossa zona, será mortal. Precisamos de colocar a APRAM em concorrência com a APM e que no próximo mandato seja contemplada a competência com alergia a esquemas, caso contrário, é nesse mandato que vamos confirmar os erros do passado a rebentar, talvez, em pessoas que não têm culpa. A APRAM só pode dar lucro, haver periodicamente injecções é uma ofensa ao erário público.

Que receita provoca um hotel cravado no porto ou um all-inclusive na praça? Os navios fazem parte da nossa paisagem mas, a Madeira ZZzzZZzz ron-ron.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 29-10-2016

Página: 28
Link: ZZzzZZzz ron-ron

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