terça-feira, 3 de maio de 2016

Empichamento

solidariedade que o CINM e os interesses da Madeira exigem ao nosso estatuto de madeirenses deve ter moeda de troca. Seremos responsáveis evitando o desemprego e o colapso da sustentabilidade das contas públicas regionais mas, cada um de nós não quer mais ser enxovalhado por oportunistas que levam lucro sem deixar imposto, pressupondo que é tudo lícito. Precisamos de mais informação, transparência e fiscalização.

O silêncio que nos pedem foi durante anos exercido pelos madeirenses, observando as actividades duvidosas dos “apêndices” bancários no CINM na folia dos objectivos ou da limpeza das contabilidades. Também não esquecemos como muitos PEP (Politically Exposed Person) usavam e abusavam das facilidades do então offshore, numa promiscuidade que misturava os interesses pessoais com os públicos, e de como políticos surgiram em cargos bancários. Tínhamos uma 1ª Divisão a olhar com desdém para a Divisão de Honra, os que seguram o sistema pagando impostos.

Na defesa do CINM, o principal argumento usado é a aprovação do IV Regime de benefícios fiscais, em vigor desde 2015, onde deixamos de ter serviços financeiros associados e se quebrou o estigma de offshore. Teoricamente, teríamos empresas com estrutura operacional, actividade, activos corpóreos ou incorpóreos, mas sobretudo postos de trabalho reais na Madeira. Em contraponto, os detractores do CINM assentam a sua argumentação no passado, onde houve chafurdice e os Panamá Paper’s nos podem dar uma amostragem documental. Invocar o facto do CINM ser balizado pelas instituições nacionais e comunitárias, faz-me lembrar como a banca no nosso país tinha órgãos reguladores e supervisores que falharam repetidas vezes. Só por si não são garantia porque vivem da amostragem. O secretário das finanças em vez de falar de hipocrisia deveria exercer a Autoridade Tributária com o mesmo escrutínio com que trouxe o bullying fiscal às famílias. Onde está a equipa especial de inspecção tributária com formação para as actividades do CINM? A ousadia de alguns, mesmo nos nossos dias, vai revelar-se mais pela falta de trabalho do senhor secretário do que propriamente pelo actual enquadramento legal do CINM, por alguma razão.

O colaborador nos calotes e secretário da dupla austeridade ainda não se disponibilizou para averiguar, até às últimas consequências, os delinquentes financeiros promotores das fugas aos impostos na região por via do CINM. O momento prova que é forte com os fracos e fraco com os fortes. Um bom político não perderia a oportunidade para inverter a sua imagem e expurgar o CINM de suspeições. É um risco?

A mudança de mentalidade oriunda da falência do país e da vivência em austeridade, associada à real falta de fiscalização, empurra os reduzidos quadros das redacções do Panamá Paper’s a produzir efeito, desejosos de uma explosão piroclástica. A 1ª Divisão de outrora acobarda-se e deseja parecer da Divisão de Honra, o receio apoderou-se dos cerca de 4000 casos detectados na nossa praça. A tranquilidade tende a acabar. O povo, com a sua sabedoria, vai lembrando que o CINM é (foi) o Telexfree dos milionários da Madeira Nova porque outros não conhece, uma clara falta de trabalho político e de fiscalização. Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele.



A opinião pública, de silêncio solidário, conclui que tínhamos futuro colectivo, mas que uns quiseram-no só para si. O passado inquina o presente e nunca há justiça. Se houver absolvição nos ilícitos do então offshore, por via moral ou política, aceitaremos, por exemplo, que os advogados executam trabalhos às cegas e se tornam cúmplices, por infortúnio, de uma roleta russa que acertou no cliente errado ou que são meros acompanhantes escort. Nunca prostitutas?

As ondas de choque despertaram os madeirenses para o facto do Objectivo 1, que perdemos, valer 3 vezes mais em fundos do que a colecta de impostos do CINM, onde a Moody’s facilita a “fuga” recebendo pagamentos para elevar o rating de empresas enquanto a austeridade intransigente e os ratings matam a República de todos. Ao desvario governativo e à banca juntou-se a fuga massiva aos impostos para consubstanciar a falência do país. O Objectivo 1 é a nossa realidade, capaz de ser mais solidária a derramar por todos mas também queremos ter a nossa cana de pesca.

Despertamos há pouco para a política brasileira com ar de superioridade mas diferimos só na exuberância e na impetuosidade que é substituída por conversa mole para enrolar incautos. Se eles estão no impeachment, nós estamos no “empichamento”, não destitui mas dá umas vergalhadas que até dançam. Liberte-se do silêncio que traz miséria. Se sabe, denuncie às redacções. Não sei que recanto de sonho terão alguns quando o mundo se tornar num inferno social.

Não sabemos se lavou ou lava jato, iate, carro, quinta ou simplesmente numerário mas suspeitamos. A defesa do CINM é legítima, o que não sabemos é se defendem o seu ou o nosso, por isso deve haver permanente fiscalização no interesse dos contribuintes. Acabe-se com os amiguismos, o omisso e não sigamos o Manual para Totós, dos que alteram e viciam as regras para serem vencedores na vida, já temos sarna suficiente.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 03-05-2016
Página: 10
Link: Empichamento


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