segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ferry ferra fogo

 atenção dos madeirenses ao assunto do ferry, para a ligação marítima da Madeira ao continente, provém dos benefícios claros que usufruíram. Experimentaram o buffet self-service dos transportes marítimos de passageiros e carga numa amplitude maior. Entenderam que o ferry é a melhor ponte para o seu desenvolvimento, suportado pela continuidade territorial nas relações humanas, comerciais e de lazer. A autonomia de acções que o ferry confere aos seus clientes cria um instinto de co-participação na operação, em benefício da celeridade e do menor custo sem “dumping”. Torna a Madeira competitiva. Assim, nasceu a estima e o sentido de posse por este serviço. Como consequência, surgiu também a revolta quando o perderam.

Politicamente, o abandono do ARMAS do serviço regular é o momento em que o Jardinismo tomou consciência da erosão aguda, longe de pensar que teria mais efeito do que a célebre cena dos Barreiros com a ideia do clube único. A impopularidade disparou para políticos e empresas do sistema. Não foi mais um caso em 40 anos. A lealdade com parceiros e o impulso de auto-defesa é legítimo mas, a lealdade ao voto dos madeirenses que entregam o poder está acima.

Com a renovada governação do PSD, criou-se um corte temporal na abordagem ao assunto do ferry. O executivo tornou-se proactivo para a retoma do serviço mas, o melindre está latente. Sem hipocrisias, a sociedade está desconfiada, os recentes desenvolvimentos colocam sob observação negativa uma auscultação que era internacional, por via do Governo da República que, acaba nas mãos da APRAM, entidade que detém um fraco historial na defesa dos interesses da região. Todos têm presente a falta de pulso para disciplinar o uso da única rampa Ro-Ro no porto do Funchal. Por outro lado, a expressão “doa a quem doer” vai passando do estado sólido para o gasoso, numa transferência consciente de um assunto importante da vida da região para mãos descartáveis. A mobilidade aérea fez mossa e alguns aprenderam a se proteger.

Numa altura em que os melhores nesta matéria não marcam presença e a abertura à sociedade civil é inexistente no órgão do PSD vocacionado para isso, o conforto para decisões difíceis, fruto de uma leitura da sociedade, das necessidades e de uma vaga concordante é escassa. As discussões estarão nas páginas dos jornais ou na casa da democracia. A maioria parou para ver e o PSD, executivo ou não, acantonou-se. O PSD não sabe envolver a sociedade nos assuntos quentes e é surpreendido.

A satisfação dos madeirenses nunca poderá ter uma solução inferior à já experimentada pois isso seria interpretado como mais um enredo da cartelização. Mereceria reprovação. Situações acessórias agudizam novamente a desconfiança de muitos madeirenses. Não há dinheiro para mudar a lota de lugar e construir uma segunda rampa Ro-Ro mas, há engenho para obter financiamento para um museu no porto. Se já falta espaço para os movimentos provocados por um ferry, imagine-se dois. Precisamos de manobrabilidade, qual o contributo? Estão a desadequar os espaços do porto como se mais cidade não houvesse. Evitam a CMF? Dizem que o mar vem buscar sempre o que lhe tiraram, eu acho que o porto faz parte. Para ser desconcertante, direi que os passageiros, carros e mercadorias do futuro ferry não vão realizar a operação numa paragem da Horários do Funchal. Estarão estas observações erradas porque existe muito espaço no Caniçal e um navio pode transportar passageiros e carga mas não ser um ferry? Estará o governo a se denunciar com outras notícias?

Para além do espaço para a manobrabilidade no porto, já se deveria ter um projecto para um parque de apoio, relativamente próximo, para aguardar e organizar as entradas na rápida escala que se pressupõe num ferry. A parte das caravanas, em anexo ao mesmo espaço, deveria ter condições para estadias.

Devemos ter serviços de ferry intermodais (tráfego misto ou múltiplo), que possibilitem interligação com outros modos de transporte no espaço europeu. Que não haja a tentação de aderirmos a singularidades por pressões. Uma empresa que use um ferry no Canal da Mancha, ou qualquer outro da Europa deve, nas mesmas condições, entrar no ferry para a Madeira. Com regularidade, compatibilidade e organização, o ferry ganhará a qualquer outro transporte e deverá existir todo o ano. Não nos isolemos com um ferry.

Quanto ao sucesso da operação, o governo deveria estar já a preparar, com um sentido mais empresarial e paralelo ao ferry, a sua situação como cliente. Deveria acentuar a sua aposta em novos eventos derramados pelo calendário turístico mais frágil do nosso destino. O governo pode contribuir positivamente no arranque do serviço tendo o retorno da aposta com o IVA, e este, deveria contribuir para o plafond do subsídio. Ajudaria a acalmar um tique nervoso que gera meias apostas, totalmente subordinado ao medo de que o plafond da mobilidade se esgote.


As empresas da região já têm experiência em como potenciar o regresso do ferry, só precisam de explorar melhor e diversificar a actividade. O ferry pode trazer novos investidores com o advento de uma renovada realidade. Terão, para avaliar, 3 perguntas a fazer, uma delas é sobre o ferry com as condições de transporte, a sua regularidade e extensão no tempo. É preciso um ferry para todo o ano, sem interrupções, numa concessão alargada que dê tranquilidade ao investimento.

O governo terá pouca brecagem, ou procura um processo pela competência e idoneidade (ninguém espera o contrário) ou o ferry ferra fogo. Num ápice se gera o mergulho eleitoral, o tempo de ler uma notícia, tal como sucedeu ao CDS quando decidiu pactuar de forma dúbia, sendo a favor do serviço mas pervertendo para um dos lados, o que foi visível nas suas últimas listas eleitorais. O eleitor percebeu.
Só há uma solução, decidir no interesse da região promovendo um mercado livre, competitivo e concorrente.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 26-10-2015
Página: 7
Link: Ferry ferra fogo


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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O fim da política reside na pessoa humana

O PSD deverá, com humildade, encarar o que se está a passar e, encontrar em si as respostas para o desfecho resultante das eleições. Deverá pensar noutro isolamento que possuí, coligado com o CDS, para maximizar as forças, não encontra mais ninguém à direita. Se surgirem novos partidos nessa área vão competir pelos mesmos votos. O PSD deverá pensar que fez o máximo que podia até porque os novos emigrantes não votaram. A lição que retira é a máxima de Sá Carneiro: o fim da política reside na pessoa humana. Eu acrescento, independentemente das circunstâncias, até porque os humanos-eleitores é que votam, as instituições só condicionam o voto, por vezes com resultados contrários. Quando tiram quase tudo aos eleitores, estes já não são susceptíveis de terem medo dos argumentos e procuram uma represália. O grande problema é se a oportunidade dada a outros se traduzir num sucesso, desmorona-se todo um argumentário com 40 anos. Se o desfecho está certo ou errado já pouco importa porque simplesmente é possível e legal. Pensaram em tudo, só não pensaram que iam às cordas assim, sinal de que devem ouvir todos os que têm uma mensagem e não ridicularizar nem ter o prazer de contrariar gratuitamente, só porque o poder manipula. Se ainda querem poder actuem com humildade porque a arrogância só tem trazido anti-corpos.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Muita facadinha

Pequena opinião no DN de hoje:


Diário de Notícias do Funchal
Data: 06-10-2015
Página: 8
Link para o apontamento só para assinantes do DN: Muita facadinha


A coligação foi eficiente e o PS displicente.

assos e Portas vão agora aplicar o que deveria constar em letrinhas pequenas no seu programa eleitoral com uma maioria simples. António Costa entra em modo de maratona, ganharei só não sei quando ... se calhar até nunca se repetir a destreza da campanha dentro do seu partido. Os dois lados têm dificuldades mas, o Costa sorridente na derrota, como que a ver o jogo todo terá, ao contrário do que se pensa, mais. Por ventura, volta a não considerar a capacidade do adversário. Qualquer obstáculo na governação servirá para a coligação se tentar auto-derrotar, para ser vítima e em novas eleições conseguir o “Danoninho” que lhe falta. Temo que a falta de estratégia e de discussão no terreno da coligação, evidenciado na campanha, se repita na nova legislatura, por parte do PS. A piada disto é que vivemos num surrealismo, todos definem a realidade que querem como sombras na alegoria da caverna. A vida prossegue, tão entretidos com a política, haverá lugar para o povo?


A nível regional:

Há muito trabalho para fazer no PSD, perdeu 9.346 votos em 6 meses, como quem diz, das Regionais para cá, e 21.421 votos na comparação com as outras Legislativas Nacionais de 2011. A unidade não existe, vão ter que trabalhar com todas as fatias do PSD-M. O que mais desceu? Os votos dos militantes desprezados e alcunhados. Há uma experiência de contacto com o povo desprezado por novatos de peito cheio mas, há também excepções e a melhor chama-se Rubina Leal. Quem fizer contas vai se deparar com ela.

O PS respira no limbo das insanáveis divisões que espreitam sempre um desaire. Subir na votação, de tão mal que estava, deve ser encarada com humildade e entusiasmo. O PS precisa de nova militância para dar força ao novo projecto. As autárquicas estão a dois passos e, ou se preparam ou vai correr mal. A estratégia do PSD já está no terreno. Não se ganha por acaso.

O BE teve a confluência de vários factores para o seu resultado, um bom candidato regional com formação onde interessa na política, o efeito galopante do feminino nacional e o meio-termo que transparece ao eleitor para poder receber o voto dos necessitados de humanidade. Se agarrar a oportunidade, sem extremismos, segue em frente.

A JPP está a perder folgo, quiçá com uma governação autárquica que já faz mossa. O importante a reter é que, pela segunda vez, a JPP deita olhares para fora do Concelho de Santa Cruz, para poder crescer mas, os seus eleitores são voláteis em casa.

A CDU cumpriu mas está com um travo na boca, o BE ultrapassou, vê-se perante a realidade de que a meia dose resulta mais do que a dose completa. O povo parece que gosta de moderação, do sorriso, do quanto baste responsável porque o que importa são os resultados práticos exequíveis.

O CDS, estica, estica e estica mas não dá. Metem toda a dedicação em campanha, exagerando nos meios. Depois tudo vai ao ar por se associarem a lobbies com candidatos cansados. A experiência é uma faca de dois gumes, leva velhos costumes ou sabe onde satisfazer o eleitor? Parece que interpretaram o primeiro. Se não souberem reconquistar o seu espaço tenderão a desaparecer, até porque o PSD precisa de se alimentar numa direita cada vez mais reduzida. O CDS-M é uma extensão do CDS nacional.

As sondagens, de rever, podem ser informativas ou dolosas. Muitos interesses concorrem em cada eleição e as sondagens poderão ter os seus. Como vigiar, conferir, como não condicionar? Será que o eleitor sofrido quer ser dos que ganham? Esquecem-se de si próprios no meio de tanto circo?

Comentadores, decidam-se! Querem estar em todas? Ou de um lado ou de outro. Ganhar dinheiro para produzir avaliações a seu gosto é feio. As campanhas mostram como tudo encaixa tão bem. Depois da coligação ganhar, o jornal Público de hoje já diz que Marcelo ganha na primeira volta das presidenciais. Se o povo abre os olhos ...

Espero discutir pormenores da governação nas presidenciais, temos que nos adaptar à realidade, tudo ao contrário. Tende fé, certezas no actual cenário são poucas.

Mais considerações para o artigo no DN se o tempo que decorrer não matar o assunto.