domingo, 7 de junho de 2015

Mala-pata

ste artigo inspira-se na alegria de uma passageira ao ver a sua mala a cair no tapete rolante do aeroporto do Funchal e a sua redobrada emoção por vir ilesa. Um memorável feito da nossa aviação.

Há um “triângulo amoroso” entre a TAP, o “handling” e as seguradoras. Por norma, a boa gente é “ultrapassada”, não estão munidos de maldade suficiente para domar os ardilosos.

As mazelas nas bagagens denunciam que estas viajam mais por via aérea do que os seus donos. A TAP sabe mas amplia o conceito de “dano menor”. A TAP usa os limites da legislação para folgar as suas insuficiências que crescem por não receberem atenção.

As reclamações com bagagens são liminarmente evitadas na origem. O objectivo é tratar verbalmente e encaminhar o assunto para o e-mail “fale connosco” que, deveria ser substituído por outro mais sugestivo como “aguarde sentado”. As respostas não acontecem. É o terminus do processo onde claramente se aborrece o passageiro com inércia para desistir.

Os mais viajados transmitem a sua táctica: “nunca desista se tem razão”. Não deve sair do balcão de reclamações sem ter o registo do número de caso. Em tempos, se você tivesse uma apólice de seguro precisaria desse número para poder reclamar mas, chegamos à caricata situação dos seguros de viagem pouco ou nada contemplarem as malas.



Recapitulemos …

Ao balcão das reclamações, logo no arranque da conversa, fica a saber que a sua mala, que não serve para outra viagem, tem um “dano menor”. Incrédulo, insiste mas, nunca obterá um número de reclamação sem algum esforço. Quando entra no impasse, o teatro acaba. Quem o atende e toda a fila quer “despachá-lo”, sente-se tacitamente derrotado. É aí que entra o “fale connosco”, a saída airosa e sem consequências das reclamações na TAP. Se você acaso é mais vivaço e insiste, desde logo aparece a segurança para o intimidar, supostamente por alvoroço. Olham para a etiqueta a ver se é extra comunitário, se for … azar, intimidam logo para abrir a mala. Você fica furibundo porque sente-se uma pessoa decente a ser injustiçada, envolvida em cada vez mais truques de dissuasão.

O seu único momento de glória é arrastar a mala, sem uma roda, provocando um risco no mármore e um som que leva os dentes dos colegas à suprema aflição. Se alguém chamar a atenção, responda: “é um dano menor!” De preferência mostre os dentes, interpretarão que é um sorriso mas se pudesse dava-lhes uma dentada.

As reclamações são auditorias de borla, a companhia e seus “associados” podem tornar um mau momento como palco da sua credibilidade. Quando quiserem …


Diário de Notícias do Funchal
Data: 07-06-2015
Página: 13
Link: Mala-pata

Clique por favor para ampliar o recorte de imprensa: