sábado, 26 de agosto de 2017

U-na-ni poli-poli-ana

ara escolher temos de estar suficientemente distantes a contemplar o quadro sem emoções ou interesses em abono da sociedade. Com 2 passos atrás ganhamos amplitude, com o nariz pregado na “obra” a vista não alcança e o cérebro não acolhe o que importa. A acção dissipa a fumaça vertida na tela política para vermos traços com sentido. A política não é um reality show de criaturas larocas que por safadezas atraem audiências, trocando o momento para dizer o que se pretende construir para o eleitorado em 4 anos por maledicência que não é programa eleitoral, uma estratégia para ganhar sem categoria e sem foco no servir. Estamos em plena folia, idêntica à que leva alguns idiotas ao poder pelo mundo fora ao colinho do marketing, do populismo e do extremismo.

A Região vive numa deformação democrática oriunda da ideia de posse e propriedade do poder, resultado de 40 anos no seu usufruto. O constante açambarcamento da economia e das oportunidades pelos mesmos não permite o integral desenvolvimento da Região, criando ricos mais ricos e pobres mais pobres que, para sobreviver, sujeitam-se à subjugação. O orçamento da Região está sequestrado para cobrir empregos a peões e manter empresas/ figuras de regime que induzem a mais obras megalómanas para facturar sem utilidade mas … enriquecendo. Conhece planos sérios a médio e longo prazo para o povo desta Região? O máximo que consegue é um orçamento regional ano a ano. Não se vislumbra qualquer navegação à bolina para tanto vento contrário no seio do povo. A solução política única é a estratégia habitual que resume o voto num mesmo partido sugerindo uma solução ao povo: pertencer à máfia no bom sentido, vivendo ad aeternum com uma cenoura num sistema esgotado pelo núcleo duro.

Tudo isto tem um fim, pela demografia e pela economia. A demografia definha porque não se permite nascer nos orçamentos familiares e quem estuda foge deste esquema. Outros fogem em boa idade laboral ou por chamamento de famílias. A novidade está na Madeira enquanto plataforma giratória da situação na Venezuela que redistribui os nossos emigrantes por outras paragens mas, a pequenez não convence a par de um certo trato sectário e preconceituoso. Uma perda de oportunidade para revitalizar. A economia passa sempre pelos mesmos em sucesso assistido pelos governantes. A Madeira resume-se a um condomínio fechado, onde seus condóminos surgem de ora em vez para se abastecer do voto. Creio ter dito o suficiente para afirmar que as eleições são momentos aflitivos que colocam em causa o sucesso pessoal e a existência de impérios privilegiados do sistema. Da aflição por necessidade nasce o ódio que valida o poder a todo custo e meios, abusivos, fraudulentos ou com chantagem no seio da deformação democrática. Quem deseja ser justo ou adversário é olhado como um ladrão que vai tirar o pão assente na tal ideia de posse e propriedade da democracia e do poder.


Neste panorama, o Director deste Diário faz escolhas. Não tem páginas a metro, o DN não nasceu de um apoio financeiro nem é de brincar aos 10.000€. Tem história! As escolhas são muito fáceis, sem u-na-ni, poli-poli-ana, instruções da Quinta Vigia e muito menos anda ao sabor dos humores dos candidatos. A escolha é a notícia e não a agenda para encher chouriços, essa que quando fica de parte eriça uns mancebos políticos que resolvem a azia denegrindo tudo e todos nas páginas das redes sociais. Se tem valor e conteúdo sai, se é maledicência e especulação estéril não. Cá vão uns factos sobre o que ele aguenta, vamos “Libertar o DN”! Deve o Director noticiar as vezes que lhe telefonam com ameaças de morte ou de que pegam fogo nas instalações? Publica as fotos de orgias e cowboyadas dos ricos do sistema no estrangeiro (para não dar nas vistas aqui) que chegam à redacção anonimamente? E as safadezas que alguns puros de sucesso fazem para arranjar tacho jogando em todos os tabuleiros sem que o sistema detecte? É para apontar os que atraiçoam e tiveram um tacho-prémio nesta Renovação? Enumera as amantes que retiram lugar aos credenciados para governar fazendo ainda sobrar impropérios aos lesados? Aponta aqueles que não vergando à chantagem são impedidos de evoluir profissionalmente? É para dar conta dos candidatos que só assinam a candidatura depois de ver um vínculo sem risco na função pública ou que são promovidos com retroactivos? Fala das salas e festas de chuto e dos financiamentos obscuros, desses que a moral apanha mas, a justiça não? Que sociedade estão a fomentar? Desejam um Correio da Manhã regional? É para contar tudo escabrosamente ou preferem um órgão de INFORMAÇÃO isento e responsável? O “DN livre” deve dizer que vai uma grande aflição no fanatismo promovido por benesses à conta da política? Essas indutoras de ódio tresloucado por considerarem que outros, tão ou mais aptos para a política, são inimigos e não adversários ou companheiros? A maledicência é sintoma de um competidor à altura. Estamos tão só num cheirinho do que a simples ameaça de perda do poder exerce no comportamento dos dependentes da deformação democrática, os da posse e propriedade dos cargos sine fine temporis. Temos por cá tanta Trump-alhada como nos EUA e o mesmo fanatismo cego dos apoiantes de Maduro que garante benesses. A moderação é de todo conveniente com tamanhos telhados de vidro.

U-na-ni, poli-poli-ana, o (e)leitor vai ser chamado a escolher num ambiente político assente no que suja mais branco antes que alguém leve um “Picasso”. Porque a crónica é sem tabus, uma pergunta desconcertante, é com isto que o PSD Madeira quer disputar 2019 e governar a Madeira? Zele por uma bipolarização credível para 2019 em que duas partes ameaçadas, uma pela outra, terão de escolher melhor as pessoas, objectivos e programas. Coloque exigência, isto com aventais e outras coisas mais, putos impreparados, lobbies, dependentes, pretendentes a salivar e amestrados do PSD do continente com ódios da democracia deformada não vai dar certo. A pré-campanha selvática não é mais do que o PSD Madeira a viabilizar a solução única, a sua, em 2019, eliminando a concorrência que poderá surgir em força. Em Junho de 2016, escrevi “As Autárquicas decidem as Regionais”, são para a câmara e a antecâmara do poder que conta e mantém o sistema e a deformação democrática ou não.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 26-08-2017
Página: 28
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sábado, 19 de agosto de 2017

RTP Madeira 2 de 2


(continuação, ler Crónica Sem Tabus do último Sábado 12-07-2017)

2010: Subdirector de conteúdos, Gil Rosa (chefe de serviço da RDP), é escolhido pela administração para subdirector de conteúdos (RTP) que acumula os trabalhos da programação, produção e informação. Com a chegada de Martim Santos, extingue-se a Direcção Adjunta de Informação, junta a informação com a produção, algo sui generis no universo RTP, provocando a perda da autonomia da redacção e, consequentemente, na informação. Mais tarde, consuma-se a vinda do subdirector Miguel Torres Cunha e Gil Rosa, com pouco tempo em funções, perde o cargo. Miguel Torres Cunha, saído do DN e próximo dos apetites empresariais interessados na privatização da RTP-M, compensa Gil Rosa mantendo-lhe as regalias da função sem as exercer. Realça-se uma gestão, no mínimo confusa, de uma estação pública sob ascendente dos privados. Na mesma altura, quiçá em desacordo mas com soluções pessoais em mãos, a RTP-M perde profissionais com mais de 30 anos de casa, Leonel de Freitas e Roquelino Ornelas, por reforma antecipada. Cada vez mais se troca  profissionais da área por elementos de confiança com experiência quase nula em rádio e TV. Destas acções nasce a “nova” RTP-M, onde não são permitidas horas extraordinárias aos funcionários para justificar a necessidade de contratar meios humanos e tecnologia em outsourcing, um meio caminho, um “publivado”.

2010/ 2011: O Grupo de Acompanhamento; Luís Miguel de Sousa decide escolher e liderar pessoas da sociedade madeirense para naqueles anos instituir o designado Grupo de Acompanhamento da RTP-M. Numa parcela da Televisão Nacional, com 40 anos de existência, parecem padrastos à força, na verdade é uma comissão instaladora que pretende interferir na RTP-M em favor da privatização. Sem qualquer suporte legal, o assunto chega à Assembleia da República pelas mãos dos então deputados nacionais pela Madeira Jacinto Serrão e José Manuel Rodrigues e a exposição mediática determina a extinção desta tentativa de obter o poder dentro da RTP-M. Tudo isto se produz numa RTP-M que nunca deixou de ser PÚBLICA.

2012: Ano do medo; Miguel Torres Cunha é incumbido de meter ordem na rebelião, emparelhando com Martim Santos a ver se é desta que privatizam. Começam a ocorrer reuniões com os funcionários em tom ríspido para se renderem às evidências e apoiarem um projecto empresarial para a RTP Madeira, caso contrário a estação poderia fechar. As intimidações são sugeridas com comparações sobre o que iam os funcionários perder se fossem para o mercado de trabalho dito “normal”. É o momento que coloca na opinião pública o que se passa dentro da RTP-M, fonte e início do meu estudo. Começam a surgir testemunhos de funcionários revoltados pelo trato recebido na imprensa, blogues e sindicatos. Quem de alguma forma sai, liberta-se e fala. O despedimento, sob alguma forma, entre empolado, artificial ou real existiu na verborreia da privatização.

2013: Fim do projecto de privatização; o ministro que tutela a RTP, Miguel Relvas, abandona o governo vergado por sucessivas polémicas e casos obscuros cedendo o seu lugar a Poiares Maduro, o que provoca o abandono da intenção de privatizar a RTP. Guilherme Costa é substituído por Alberto da Ponte e surge o Conselho Geral Independente com a finalidade de nomear a Administração e assim acabar com o vício da tutela em nomear os boys da política para a administração da RTP. Apesar da evolução do contexto nacional, entre a fase da tentativa de privatização e o arranque do Conselho Geral Independente, a RTP Madeira manteve, até hoje, a mesma Direcção promovida pelo interesse da privatização. Parece que se apostou em vencer por usucapião. A cada visita inócua de elementos da Administração nacional à região, a esperança acaba defraudada e a dialéctica beligerante acentua-se entre os funcionários que se acham públicos e os que se acham “privados” (novos, dóceis ou adaptados que olham para o seu emprego no outsourcing em condição precária). Sobrepõem mais confusões, não resolvem a actualização dos equipamentos e não determinam rumo, estratégias, quadros e lideranças. Só adicionam ruído.

A RTP Madeira é PÚBLICA e não há qualquer indefinição ou dúvida a este respeito, o que significa paralelamente que a actual direcção está deslocada no tempo, do princípio e do espírito de uma televisão de serviço público e não de serviço empresarial ou político que tantas vezes deixa transparecer. A RTP-M necessita de purgar ascendentes, permitir que o mérito vingue numa estação bem equipada, o brio surgirá e os vícios serão abafados. A estação regional, para que nunca mais se coloque a sua existência em causa, precisa de paz, de share e dos madeirenses ao seu lado. A história da RTP Madeira, sobretudo nos último 8 anos, é de cúpulas que, desejando poder, se esqueceram por completo de deixar trabalhar no interesse da Madeira, parece que se sabota até atingir os objectivos e depois logo se vê. A RTP-M perdeu valores antes do tempo, não necessariamente seniores acima dos 50 anos com reforma antecipada, por vezes gente da casa colocada na prateleira, formada e cotada para a TV. Há funcionários por despontar, só precisam de ambiente e condições. A RTP-M necessita de fechar o ciclo que vive sinistramente há 4 anos e cingir-se à linha da RTP Nacional e das recomendações do Conselho Geral Independente. Qual a dúvida?

Com a influência que a Venezuela tem na Madeira, ninguém pia sobre a sua vocação natural para a cobertura singular do que se passa naquele país e assim afirmar a estação? Tão fácil seria brilhar e ganhar respeito. Em determinados dias, a informação da RTP-M parece saber que existe um importante jogo no estádio mas decide fazer a cobertura sobre 2 ou 3 detalhes nos balneários. Enquanto o “mundo pula e avança” a RTP-M está na sua “alegre casinha”. Enquanto uns desesperam lutando por liberdade e democracia na Venezuela outros fazem o trajecto contrário na Madeira. O telespectador topa e desconsidera o serviço dos Donos Disto Tudo.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança: / Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades. /Continuamente vemos novidades, / Diferentes em tudo da esperança: / Do mal ficam as mágoas na lembrança, / E do bem (se algum houve) as saudades.” (Luís Vaz de Camões in Sonetos).



Diário de Notícias do Funchal
Data: 19-08-2017
Página: 28
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sábado, 12 de agosto de 2017

RTP Madeira 1 de 2


m dois Sábados abordarei a RTP-M pela evolução da conjuntura dos últimos anos, naturalmente a abreviar mas, suficientemente informativo, e espero que fiel, para sabermos como se suicida uma estação de TV. Os nomes são acessórios mas fazem parte do imbróglio que a RTP nacional, única responsável, estranhamente permite e não resolve.

A RTP-M encerra em si própria um excelente guião para uma novela em prime time. O ambiente tórrido que se vive na estação deve-se à circulação de nomes em vez de objectivos a bem do serviço público. Ao abordarmos os problemas da estação, chegaremos então a nomes com menos subjectividade nas acusações. A permissão da conjuntura é que dá importância aos nomes. Arranquemos com umas perguntas. Porque não estão os madeirenses incondicionalmente com a sua TV? Porque houve indiferença atroz quando se insinuou o seu encerramento? Quem falhou durante todos estes anos na actualização dos meios técnicos para trazer outro entusiasmo aos funcionários? Que objectivos coloca a RTP-M aos seus funcionários? Qual a idoneidade das lideranças? Tem um desígnio ou simplesmente não há moral? Trabalham para que share? Porque é que em algo tão exposto segue a tradição tachista na região? Porque é que quanto mais formado e experiente na área mais se “emprateleira”? Há 30 anos, a RTP-M abria a emissão às 18:00, a mesma hora dos nossos dias, excelente retrato da estagnação para uma TV que já deu “Bom Dia Madeira”.

Recuemos 30 anos na RTP-M. 2ª metade da década de 80 até 1997: Armindo Abreu, o Director que inaugura as novas instalações da RTP-M, no Caminho de Santo António (1995), reforça a produção regional, onde inclui mais desporto, e aumenta o número de transmissões em directo de eventos. Em 1997, o Telejornal das 21 horas surge com notícias regionais a par da actualidade nacional e internacional. Um novo noticiário entra para a grelha, o das 14 horas, o programa “Alpendre” também.
1997-2003: Carlos Alberto Fernandes conhecia profundamente a RTP Nacional e chegou à liderança depois de ser subdirector de Armindo Abreu. Foi o director técnico do canal Tele Expo que juntou a RTP e a SIC para a transmissão dos eventos da Expo 98. Esta posição privilegiada deu-lhe a oportunidade de trazer câmaras digitais e equipamentos de montagem para a RTP-M, parte do espólio da Tele Expo. O Telejornal das 21 horas passa a chamar-se Jornal das 21, para se diferenciar da produção do continente, e dedica-se integralmente às notícias regionais. Com as novas condições técnicas surgem os programas de desporto Estádio (diário) e o Fora de Campo (semanal).
2003-2005: Luís Calisto, vindo da imprensa, deu prioridade às notícias cobertas pela estação para obter diferenciação. A produção regional dedica-se a novas áreas como, por exemplo, a pesquisa sobre os Verões do passado, documentários e outros programas de informação gravados.
2005-2010: Leonel de Freitas lança o Bom Dia Madeira, inovando com a abertura da emissão às 7:30. Promove debates da actualidade no Telejornal Madeira após a leitura das notícias. É uma altura de lançamento de novos programas.
2010 - ... : Martim Santos, reduz as horas de emissão, com abertura às 17 horas no Inverno e às 19 horas no Verão com encerramento entre as 23 e as 00:00 horas. Uma TV com 4 a 6 horas de emissão que naturalmente extingue a produção fora desse horário (ex. Bom dia Madeira e noticário das 14 horas). Cria novos programas de pós produção e aumenta a duração dos programas gravados e em directo. Adiciona novos formatos de Verão.
Os directores profissionais de rádio e de televisão que assumiram a chefia da estação foram Armindo Abreu, Carlos Alberto Fernandes e Leonel de Freitas, os restantes directores e alguns quadros de confiança fizeram comissões de serviço com diversas origens: exército, EEM, hotelaria e imprensa escrita. Todos estes cargos vagueram ao longo dos anos por um parecer vinculativo do Presidente do Governo Regional (GR) e consequente decisão final do Conselho de Administração da RTP até ao Governo da República Durão Barroso/ Santana Lopes. Por esta altura passa a decisão simples do Conselho de Administração até aos nossos dias.
2010: Guilherme Costa tinha como vice-presidente José Marquitos, bem relacionado com empresários e políticos da Madeira, que os dá a conhecer ao seu presidente durante as férias, no Verão de 2009, no Porto Santo. Este é o primeiro momento do ascendente de Luís Miguel Sousa sobre a RTP-M através da amizade e proximidade com o então presidente da RTP. É também nesta ocasião que a RTP-M vislumbra um futuro mais indefinido. A RTP nacional vivia, na altura, uma possível privatização, questão que dividia o governo de coligação PSD/CDS em funções na altura. Tutelado pelo ministro Miguel Relvas, Guilherme Costa promoveu contactos com empresários em Angola e na Madeira que mostraram apetite por uma eventual privatização do canal RTP da Madeira. A RTP-M era Pública ou privada? Nada havia mudado, era pública mas, com exposição privada. Sem qualquer decisão tomada pela RTP nacional, a tentacular vertente privada evolui tacitamente a partir dos empresários da Madeira. Os funcionários surpreendidos pressupõem que algo “combinado” ocorre sem valor legal. Martim Santos, jovem ex quadro do Grupo Pestana e co-explorador do Café do Teatro com seu padrinho, assume funções na RTP Madeira, sem experiência em empresas de comunicação ou TV, o que muitos funcionários da casa, bem mais preparados, sentem como um ultraje e uma ingerência. É o momento em que se acentuam os desacordos, uns vendem-se outros não, arranca uma era de calculismos e sobrevivências, ainda para mais com um impávido e apático Conselho de Administração que não parece de confiança. Os funcionários consomem-se num silêncio e a estação definha a cumprir o horário.
(contínua no próximo Sábado)




Diário de Notícias do Funchal
Data: 12-08-2017
Página: 32
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sábado, 5 de agosto de 2017

O fio que canta

o colégio onde fiz a instrução primária, costumavam organizar uma feira do livro, numa delas comprei duas histórias do Lucky Luke que ainda preservo. Uma, muito pedagógica, colocou a professora de “castigo” a borrar de preto o grande manancial de quadros com desenhos de mulheres nuas nos saloons. A outra história de Morris e René Goscinny metia naturalmente o mais rápido do que a sombra, índios, aldrabões, sabotagens e os pioneiros da instalação do telégrafo nos EUA, ilustrando na perfeição a realidade que contarei. Publicado pela primeira vez no Paris Match, tornou-se no 71º livro do projecto franco-belga em 1977, “Le fil qui chante”, bem poderia ter como tradução “A poupança que pagamos” mas acabou por se definir à letra como “O fio que canta”, expressão dos índios sobre o fenómeno que ocorria na região, o que também não anda longe da realidade, de facto “cantamos”, duas ou três vezes, depende da perspectiva.

A 8 de Agosto próximo, passam-se 3 anos da assinatura de um contrato entre o Governo Regional (GR) com uma empresa do grupo EEM, designada por Emacom, que visava criar uma rede de comunicações privada do GR no âmbito do projecto eGov@Madeira.

Importa recuar a 2014 e relembrar que o GR e PT estavam em maus lençóis financeiros, a última exige por cobrança coerciva as facturas de comunicações pendentes no GR. Este, por sua vez, avança com um projecto que parecia um correctivo à PT como forma de pressão negocial, promovendo uma alternativa que o fizesse poupar cerca de 1.2 milhões de Euros ano, prescindindo dos serviços da PT. O governo da altura lança assim o concurso público internacional (CP03/SRF-DRI/2014 da Secretaria Regional do Plano e Finanças) para a instalação de uma rede de comunicações privada para a administração pública da Madeira, curiosamente excluindo o SESARAM. A EEM, empresa tutelada pelo GR e “braço armado” em muitas ocasiões, concorre e ganha a solução de comunicações exclusiva do GR. A PT, outro concorrente do projecto, discorda do resultado e suspeita de “arranjo” e instrui um processo no Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal. Nesta acção, a PT pede a nulidade do concurso com dois fundamentos, o do preço base de 5,6 milhões de euros indicado como demasiado baixo para a solução que o GR desejava implementar e a duração do contrato de manutenção por 20 anos (até 2034), o que garantia a PT longe por esse tempo, mas que, segundo a empresa de comunicações, não estava devidamente fundamentado por requerer outro procedimento pela razão de se estender por mais de 3 anos. O tribunal só deu razão à PT no segundo argumento do qual o governo recorre. Para tornar mais interessante a situação, o preço que era curto para a PT permite à EEM dar de subempreitada a instalação a duas empresas.

Como se depreende, as etapas do concurso prosseguem, o GR avança e disponibiliza 4.3 milhões de Euros à EEM (85% comparticipado pelo FEDER), sendo 2.7 milhões de euros respeitantes a equipamentos e montagem da infraestrutura e outros 1.5 milhões de Euros relativos a formação, gestão, monitorização e assistência técnica. Se assim fosse, era um “negócio da China” e, pelo valor da despesa anual com a PT, o investimento seria amortizado em 4 anos. Segue-se, naturalmente, outra necessidade, pagar a manutenção e monitorização anual para que o projecto não se desactualizasse ou ficasse ferido de equipamentos essenciais, vai daí, ao custo de implementação segue-se outro custo anual, uma brincadeira de 1.2 milhões de Euros por cada um dos 20 anos. É aqui que todos nós, enquanto contribuintes, começamos a perceber que íamos pagar mais por esta poupança, pois só a manutenção anual tinha o mesmo custo da factura anual da PT (com os preços a descer) ficando unicamente a autonomia como trunfo mas, a história não acaba aqui. Por outro lado, a PT ao colocar o caso em tribunal entorna o caldo ao GR, porque é má fé poder pagar a manutenção anual da rede privada (pelo mesmo valor da factura anual da PT) e não saldar as facturas. Nesta situação, o GR ignora o seu projecto e adjudica, através de diversas secretarias, o serviço de comunicações à MEO (PT) para todo o governo com o intuito de calar e acalmar os pagamentos em dívida.


Neste momento, a poupança do GR resultou num incremento da factura de comunicações pois tem de pagar à PT e honrar o contrato com a Emacom, da qual não resultou todavia nenhuma rede privada e são os funcionários públicos a monitorizar o que existe. Se por um lado tivemos um Secretário do Plano e Finanças de 2014 que se foi entalando com o evoluir da conjuntura, neste momento temos a SRETC, na já tradição da Renovação, a assobiar por via do corte mental com outros governos do mesmo partido. Mas há paralelismos, a exemplo da sugestão de tarifas por via do subsídio da mobilidade aérea, o secretário do cabo submarino teve a veleidade de sugerir o tarifário do futuro ferry e, mais recentemente, alvitrou uma baixa de 16€ ao consumidor nas comunicações, naquele ímpeto de mostrar serviço que acaba em borrão. Preços é matéria exclusiva dos operadores que constroem uma rentabilidade de forma competitiva ou abusiva. O secretário só fica incumbido da feitura do caderno de encargos e do quadro legal das operações de forma inteligente para que os operadores, do que quer que seja, não se aproveitem da incompetência. Para quem já afirmou que a factura das comunicações vai descer 16€ ao consumidor, desconhecendo-se a lógica do número, era bom começar a focar-se na responsabilidade do GR em não pagar duas vezes as comunicações do governo, a rede privada paralisada e a da MEO. Se fizermos contas, afinal não são menos 16€ nas comunicações por cada cliente/contribuinte. À data da implementação do projecto de rede privada de fibra, era esperado que o Governo até tivesse VoIP (chamadas telefónicas sobre a internet) para justificar o investimento e a poupança obtida, no entanto, a realidade é que agora, em vez de uma factura, o governo paga duas à PT com as chamadas telefónicas em separado. Este é um caso em centenas, Deus vai nos providenciar mais Sábados. Com décadas a jorrar euros da Europa, deveríamos ser um povo a viver bem mas ainda pagamos a falência e aturamos o “Diesel & Bloom”.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 05-08-2017
Página: 28
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sábado, 29 de julho de 2017

As vacas que não voam

as condições climatéricas que ultrapassam os limites impostos pelos construtores de aviões e do aeroporto estamos falados, quanto às condições dadas aos passageiros durante a inoperacionalidade do campo de aviação, é outra coisa. Qual o plano de contingência para estas situações? Tudo ao molho e fé em Deus, são muitos os avisos mas ninguém liga. O aeroporto do bi-melhor destino insular do mundo no World Travel Awards é conhecido por tarifas aéreas exorbitantes e taxas aeroportuárias que escaldam, no entanto mal foge da rotina não há plano B e os preços são um logro, passamos de passageiros a gado. Quando as vacas não voam, toda a pastagem é deixada à sorte pelos cowboys gestores, quiçá em busca de um prémio de excelência ou produtividade, escravizando todos e fugindo à responsabilidade. A falta de resposta corresponde à ausência de trabalho em matéria de prevenção e seguro colectivo para as eventualidades que já não são tão dispersas no tempo.


O Aeroporto da Madeira deve ter colchões, cobertores e almofadas para situações de emergência. Não é novidade noutros aeroportos onde vemos militares a ajudar, bastava repetir a logística da semana do desporto. E que tal um apoio a bebés e crianças? Informadores itinerantes? Aumento da frequência das limpezas? Locais para carregar telemóveis? Reforço de turnos? Nem equipas de apoio com água e copos para ultrapassar o esgotamento de stock nos bares e a inacessibilidade às torneiras dos WC com filas metabólicas. A água deixa de ser um negócio para ser uma urgência na inoperacionalidade, se começar a haver desmaios comprovaremos como não foram activados serviços de apoio consentâneos com a aglomeração de pessoas sem condições e em espera por largas horas de pé.

Naqueles dias, a fila do principal balcão de atendimento dava a volta pelos elevadores e prosseguia em frente à loja das revistas, dos drops e por aí fora. Quem começou na zona das revistas, ao fim de 12 horas estava em frente à polícia; estimando-se em mais 6 horas para ser atendido, desistiu pois o balcão estaria fechado quando lá chegasse. Não cobrar as remarcações e paralelamente não reforçar o call center é uma não decisão, agravada ao não permitir que agências de viagens aliviem o trabalho do call center intervindo nas suas passagens. As extensas filas no balcão principal foram sintoma do descrito. Belo foi cumprir o horário de serviço e encerrar às 23 horas, insensível ao caos e à sensação de impotência porque ninguém atende telefones. Os que tiveram sorte no atendimento presencial, por persistência de um dia de trabalho, o caso não foi resolvido, na maior parte, as remarcações renderam até uma semana depois. Alguns, satisfeitos ao chegar ao hotel para descansar, mesmo com voucher, não tinham lugar. O remédio foi passar a noite no aeroporto. Nestas horas, os direitos dos passageiros pouco contam, vencidos pela inércia ou pela resignação.
Foto DN - Madeira
Aprenda a domesticar o metabolismo, abstenha-se de comer e leve fraldas na bagagem de mão. Durante a inoperacionalidade do aeroporto, a sua necessidade fisiológica deve manifestar-se horas antes, lembre-se da bicha. O aeroporto não tem um espaço multifuncional capaz de se adaptar às eventualidades como servir refeições do Catering, que está a dois passos, para que as senhas tenham utilidade quando se esgota a comida no aeroporto ou albergar sanitários e lavatórios portáteis. Nestes momentos tudo emerge, o aeroporto, longe de corresponder ao básico, é um comerciante de preços proibitivos, desde logo pelos estacionamentos, tornando os bares da Estrada Regional 207 sede das esperas dos familiares e operadores turísticos.
Aquele inócuo e-mail da Directora do Turismo a apelar aos hotéis para resolverem o problema dos alojamentos soa como se estes não quisessem vender ou arranjar uma cama no vão da escada, quando tudo falhou no aeroporto, a caminho do plano D, Desenrasquem-se. Zelar pela qualidade do destino é da responsabilidade e supervisão do GR. É preciso ir para o terreno. A Directora sabe que umas escadas foram substituídas por um elevador até que viram o erro e agora pensam encerrar uns WC para fazer umas escadas de novo? Os tais WC que não deram para as encomendas nesta inoperacionalidade. Despejar dinheiro na promoção não terá qualquer efeito com estas barracas, não falo de vento, falo de ausência de profissionalismo e brio não comerciante que anda a reduzir custos onde não deve.
Quando me perderam a mala na Alemanha, ao chegar ao balcão encontrei uma “alemoa” com um esbelto corpo que me levava debaixo do braço, hesitei. Esclarecida a situação, o seu sorriso foi bingo! Ganhei um necessaire com tanta coisa e o compromisso de mala no hotel com hora marcada, o momento tornou-se numa boa recordação e a eficiência suavizou o estado de espírito. Se a “alemoa” viesse à Madeira, a lembrança seria o chão do aeroporto, com sorte levava-nos o director debaixo do braço. Vi-o relaxado a falar com um ex-governante “atropelado” pela situação, tanto caos, nenhum stress, por pouco não apareceu John McClane para pôr cobro à situação. Quando tudo é tabu na aviação, desde a informação ao passageiro, às reclamações que se evitam ou desaparecem, aos dados da inoperacionalidade com a ANA, etc, a ANAC deveria ter nestes momentos um representante no terreno se está comprometida com a alínea “y” do artigo 4º dos seus estatutos: “Regular a economia das actividades aeroportuárias, aeronáuticas, de navegação aérea, de transporte aéreo e de trabalho aéreo no âmbito da aviação civil, respeitando o ambiente e os direitos e interesses dos passageiros” para um relatório independente.


Foto DN - Madeira
Estão cientes do que a mudança de modelo no turismo acarreta? Anotaram alguma coisa? É que nada mudou com as outras inoperacionalidades. É possível transformar maus momentos em boa publicidade até pela cobertura dos média. Uma palavra de apreço aos poucos que em serviço deram tudo. Quando a conjuntura proporciona a vaidade dos números, que tal apostar num plano de contingência que instrua o aeroporto para os desafios da inoperacionalidade? Isso é que era, mesmo com passageiros a pastar seria ... uma vaca feliz, outra vaca feliz, uma ilha de vacas felizes, andam sempre a passear, têm vista para o mar, o pasto verdejante é o seu manjar.



Diário de Notícias do Funchal
Data: 29-07-2017
Página: 24
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sábado, 22 de julho de 2017

Oh Là Là

ue ironia, na mesma semana, tivemos a apresentação da SalvaMarMadeira - Associação de Nadadores Salvadores da Região Autónoma da Madeira - e uma sondagem onde se anuncia o naufrágio do PSD-M no Funchal, seguindo os passos de Coelho, a nível nacional, que até vem à região “ajudar”. Isto lembra uma reza de uma antiga vizinha que, enquanto fumigava a casa com incenso, entrava em transe com a repetição do “bem para dentro, mal para fora, graças de Deus pela casa dentro”.


SalvaMarMadeira: arranquemos pela salvação. Só é Nadador Salvador a pessoa com o curso certificado ou reconhecido pelo Instituto de Socorros a Náufragos, a quem compete socorrer e prestar suporte básico de vida nas praias, áreas concessionadas, piscinas entre outros locais de práticas aquáticas com obrigatoriedade de vigilância. Para além disso, orientam conteúdos técnicos profissionais específicos, informam e previnem. Para defender esta nobre função nada mais inteligente do que constituir uma geringonça caranguejolada de largo espectro político para uma melhor imunização à habitual mania de politizar tudo o que mexe na região. Assim se apresentou a SalvaMarMadeira, sem fins lucrativos, para salvar vidas dignificando os nadadores-salvadores. Pretendem acabar com a ultrajante situação de ganharem 2,99€ por hora para se manterem em forma, por horários de sol a sol na função de salvar vidas, essas que parecem estar em saldos. A associação mostrou inteligência ao se precaver de qualquer cambalhota no panorama regional, tendo sempre um interlocutor privilegiado para cada sensibilidade política. É a primeira vez que vejo a adaptação da cidadania aos novos tempos.


Apesar daquele miserável valor pago por hora, na actualidade, os “pacotes” vendidos às câmaras são caríssimos para os serviços de vigilância às praias. Há lugar a uma moderação que vai beneficiar todos os intervenientes, acabando com uma atitude “comerciante”. A SalvaMarMadeira não vai ganhar dinheiro com os serviços dos nadadores salvadores, fará vida com a formação e a segurança através de protocolos com escolas e instituições. Esperemos que a SalvaMarMadeira, com a cidadania e a pura necessidade de colmatar uma falha na nossa estrutura de salvamento, tenha sabido tornear a degradante politização e “comércio” de tudo para uma nova era de respeito pelas instituições.

Sondagem do Funchal: há euforias, desalentos, esperanças e especulações mas é uma sondagem que indica uma clara tendência por mais uma vez. Se convertermos 12% de diferença em votos, nesta bipolarização, é uma informação bem mais violenta. A efectivação da candidatura de Rubina valeu-lhe, comparativamente à sondagem de Janeiro, neste mesmo DN, a migração de 5 pontos percentuais de Cafôfo para si, falta saber o efeito do anúncio da sua lista que, saindo às pinguinhas, denota dificuldades na sua formação. A lista de Cafôfo passou em low profile e, a confirmar-se este resultado, 6-4-1, o 5º e 6º candidato à vereação são grandes adições à equipa. Não sei que anúncios poderá um Governo Regional suspeito lançar para o futuro a fim de alavancar votos nestas autárquicas, não há concretizações e trabalha-se em stress para colmatar uma má programação da agenda. Por outro lado, talvez fosse do PSD tentar uma campanha pela positiva, provando que tem ideias, por este caminho de lama vai dar muito errado com os seus telhados de vidro. Observo um fenómeno que ainda não foi falado nestes momentos de sondagens na Madeira. Elas são fiéis aos inquéritos recolhidos mas estimo que o clima intimidatório que o PSD-M exerce sobre os eleitores, de alguma forma dependentes, provoca uma maior margem de erro nos seus números porque há uma diferença não quantificada entre aquilo que é indicação de voto politicamente correcta, quando verbalizada, e outra quando a indicação é secreta, acabando a situação por ser designada por margem de erro. Estou a dizer que os números do PSD tendem a ser piores por esta razão e aqueles 15,3% que escondem as suas preferências serão um calvário e não uma esperança. A fé de que muitos, normalmente funcionários públicos, acabam mesmo que contrariados votando no PSD por medo de perder algo foi ultrapassado, a partir do momento em que a Renovação os destrata para conseguir espaço para os jobs for the boys and girls e onde estes, acabadinhos de chegar, representam um insulto.

Quanto a Cafôfo, enquanto independente apoiado por independentes e partidos, deveria fazer constar nas suas listas a sensibilidade social-democrata para materializar um reconhecimento aos votos que já lhe deram uma vitória no passado e dos quais volta a depender no presente. Há PSDs a contribuir para a sua vitória, é inegável. Tendo o apoio de Costa, parece que não aprendeu a sua capacidade de negociar e embrulhar o adversário. Perceberá no futuro como não marcou o ponto agora se acaso tiver outras ambições. O PSD-M é um portento que só precisa de um exorcismo sobre aqueles que resumem a democracia aos seus interesses e impérios. Quem não sabe escolher bons quadros, em oportunidade única, arrisca-se a fazer no futuro a mesma figura da Renovação que, focada no coro e alheada do mérito, com muita presunção e soberba, mantém o orgulho de trabalhar com a fracção da lotaria. Os eleitores da Madeira são ideologicamente, na maioria, social-democratas, só não têm paciência para aturar este PSD-M com os respectivos deformados do momento, perfeitos para a era Passos Coelho. Quem aceder à social-democracia leva uma parte dos PSDs. Agora é colocar a cabeça a funcionar, basta o ambiente político se alterar para andarmos de cambalhota em cambalhota, tanto o PSD-M ressuscita, como surge um novo partido ou Cafôfo, independente, ainda é solicitado para o exorcismo. Jardim deambula e não mete prego sem estopa, parece que estamos à entrada de uma era de imunização do tipo SalvaMarMadeira.



Diário de Notícias do Funchal


Data: 22-07-2017
Página: 28
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sábado, 15 de julho de 2017

Tecnopoio

Madeira Tecnopolo (MT) assemelha-se, nos nossos dias, aos socalcos madeirenses que outrora dominavam a paisagem mas que, presentemente, estão votados ao abandono, cheios de erva daninha. Ao chegar vemos um edifício degradado, sem manutenção e envolto numa cabeleira de jardins sem pente. Se existisse a mão-de-obra dedicada de outros tempos, seria um deslumbre. O MT foi inaugurado em 1996 após pressões da ACIF e da ASSICOM que reivindicavam, junto da CMF e do Governo Regional (GR), a criação de um espaço destinado à realização de feiras e congressos na RAM. O GR achou por bem expandir o espaço a outros projectos num único valley que colmataria várias lacunas, podendo servir de centro dinamizador do desenvolvimento científico e empresarial da RAM. Assim, nasce o Madeira Tecnopolo agregando o CIFEC (Centro Internacional de Feiras e Congressos), a AREAM, ao BIC/CEIM (agora com o rebranding da Renovação StartUp Madeira), a UMa, o CITMA, etc. Um valley bem estruturado e infraestruturado com novos projectos em mente que até aos árabes interessou. Parecia que era só rechear e alavancar mas perdeu-se. Ao nível das instalações, quando inauguradas, eram as melhores da Madeira e ombreavam com qualquer centro de feiras/ congressos nacional ou internacional.

O MT arrancou com um turbilhão de eventos, fruto de uma planificação a 3 anos; os dados indicam que em 1999 organizou 156 eventos, rejeitando alguns porque as montagens inviabilizavam dias de exposição. Cerca de 25 Eventos foram nacionais ou internacionais onde estiveram 2100 estrangeiros e 2200 nacionais. Foi uma área do governo em que se trabalhava em modo de empresa privada, em horário exigente mas com humor reconfortante. Por esta altura, começa a ser notada a falta de um hotel junto aos eventos que bem poderia ter sido a Escola Hoteleira (novo edifício em 1997), para continuar a crescer e a conquistar mercado com eventos internacionais cada vez mais exigentes. A incapacidade de resposta dos transportes aéreos começam a ser uma pecha, havia que pensar em charters e não carreiras regulares. Passado o doloroso momento entre a criação e a velocidade de cruzeiro, o “brinquedo” tornou-se apetecível. Surgiram os predadores do estatuto, do ordenado e das oportunidades, algo que contrasta com a actualidade, sendo difícil nomear um administrador para um notável legado de 13 milhões de euros de passivo.

Na altura do apetecível “brinquedo”, qualquer coisa justificava uma viagem, um administrador adjudicava a si mesmo, enquanto empresário, a prestar serviços para o MT, em exclusividade, com preços que retiravam competitividade. Também houve administradores competentes mas abafados por outros de poucos escrúpulos. O MT entra na fase “militar” onde a promoção internacional passa a inexistente com a ideia de que era dinheiro deitado fora. A manutenção do edifício continua a não ser atendida mas cai-se nas boas graças com charme enquanto se aniquila objectivos estudados. Os pertences do Tecnopolo são cobiçados, os equipamentos são emprestados até à sua perda por desgaste rápido ou desaparecimento. Ilustro com 2 exemplos, entre muitos. A estrutura cénica (panos e ecrã de elevadíssima qualidade, só para indoor) acaba no mar por acção do vento, no concerto do Júlio Iglésias em 2004, na Pontinha. Empresta-se o material dos stands a concorrentes que o devolvem em cada vez pior estado. Assim, o MT vai ficando sem feiras, sugado por todos, sem material e com calote. Neste momento, o MT agoniza ignorado pela tutela e esvaziado de conteúdo. Resume-se somente ao CIFEC com 2 Salas e 2 pavilhões, perdeu 8 salas e a respectiva polivalência, a grande vantagem competitiva que detinha. Alguns dos seus espaços estão alocados a instituições, tornado-se um “arrendatário” sem rendimento, por pagamentos em atraso, nem espaço, o que inviabiliza cada vez mais os eventos. Perdeu parte das instalações para o M-ITI, outro projecto que está em convulsão permanente, fruto de uma chefia conflituosa do ex-presidente do MT que utilizou o poder para beneficiar o seu projecto do coração. O MT é apetecido pela Secretaria da Economia para dar asas a mais um projecto de fachada, o alargamento do StartUp Madeira, controlado pela Secretaria das Finanças que o estrangula financeiramente, sempre com o tal “guarda-livros” sem visão.

Em 2013, o MT teve 26 eventos de origem regional, à excepção de algumas formações pequenas organizadas por empresas nacionais e destinadas a clientes regionais. O pouco que ainda se faz deve-se à competência e profissionalismo dos parcos funcionários que resistem e que durante o ano passado tiveram ordenados em atraso. Vive o resultado do acumular de erros resultantes das graves decisões das tutelas e Administrações do passado mas ninguém foi responsabilizado.



Quando tudo falta no MT, não há tutela activa, não há Administração com projecto. Para onde caminha? Estão a criar um claro historial junto da UE, suportado na lógica de aproveitamento dos fundos, fazendo dívida mas sem uma economia regional para manter e com a solução internacional sabotada. O contribuinte irá pagar a factura duas vezes, a da construção e a da dívida. Será que este projecto de milhões vai ser abandonado e transformado em albergue de organismos públicos? Só interessa à política quando quer pavonear os números dos comensais em vésperas de eleições? Será que o MT está a maturar mais uma solução única para hotel, na já tradição deste GR, aí sim com condições excepcionais para trazer de novo eventos internacionais? Valorizado em 10.000€, “oferecido”? Mais uma factura para o contribuinte?

Como factos temos o valley que migrou para a Ribeira Brava com uma só empresa privada. O próprio GR assassina o seu investimento num desprezo político imperdoável apesar de ser obra do PSD. A outrora promotora ACIF faz a ExpoMadeira num estádio por interesse de alguém a jogar com as influências. O secretário que não é da tutela usa o MT como sede das Startups e lá dentro, lugar que não é exemplo, fala em como administrar, promover e formar para uma nova economia. Ninguém obtém do GR a resposta sobre o que vai fazer do MT mas, ela é do interesse de muitos, principalmente de contribuintes e funcionários.



Diário de Notícias do Funchal
Data: 15-07-2017
Página: 28
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