(continuação, ler Crónica Sem Tabus do último Sábado 12-07-2017)
2010: Subdirector de conteúdos, Gil Rosa (chefe de serviço da RDP), é escolhido pela administração para subdirector de conteúdos (RTP) que acumula os trabalhos da programação, produção e informação. Com a chegada de Martim Santos, extingue-se a Direcção Adjunta de Informação, junta a informação com a produção, algo sui generis no universo RTP, provocando a perda da autonomia da redacção e, consequentemente, na informação. Mais tarde, consuma-se a vinda do subdirector Miguel Torres Cunha e Gil Rosa, com pouco tempo em funções, perde o cargo. Miguel Torres Cunha, saído do DN e próximo dos apetites empresariais interessados na privatização da RTP-M, compensa Gil Rosa mantendo-lhe as regalias da função sem as exercer. Realça-se uma gestão, no mínimo confusa, de uma estação pública sob ascendente dos privados. Na mesma altura, quiçá em desacordo mas com soluções pessoais em mãos, a RTP-M perde profissionais com mais de 30 anos de casa, Leonel de Freitas e Roquelino Ornelas, por reforma antecipada. Cada vez mais se troca profissionais da área por elementos de confiança com experiência quase nula em rádio e TV. Destas acções nasce a “nova” RTP-M, onde não são permitidas horas extraordinárias aos funcionários para justificar a necessidade de contratar meios humanos e tecnologia em outsourcing, um meio caminho, um “publivado”.
2010/ 2011: O Grupo de Acompanhamento; Luís Miguel de Sousa decide
escolher e liderar pessoas da sociedade madeirense para naqueles anos instituir
o designado Grupo de Acompanhamento da RTP-M. Numa parcela da Televisão
Nacional, com 40 anos de existência, parecem padrastos à força, na verdade é
uma comissão instaladora que pretende interferir na RTP-M em favor da
privatização. Sem qualquer suporte legal, o assunto chega à Assembleia da
República pelas mãos dos então deputados nacionais pela Madeira Jacinto Serrão
e José Manuel Rodrigues e a exposição mediática determina a extinção desta
tentativa de obter o poder dentro da RTP-M. Tudo isto se produz numa RTP-M que
nunca deixou de ser PÚBLICA.
2012: Ano do medo; Miguel Torres Cunha é incumbido de meter ordem na
rebelião, emparelhando com Martim Santos a ver se é desta que privatizam.
Começam a ocorrer reuniões com os funcionários em tom ríspido para se renderem
às evidências e apoiarem um projecto empresarial para a RTP Madeira, caso
contrário a estação poderia fechar. As intimidações são sugeridas com
comparações sobre o que iam os funcionários perder se fossem para o mercado de
trabalho dito “normal”. É o momento que coloca na opinião pública o que se
passa dentro da RTP-M, fonte e início do meu estudo. Começam a surgir
testemunhos de funcionários revoltados pelo trato recebido na imprensa, blogues
e sindicatos. Quem de alguma forma sai, liberta-se e fala. O despedimento, sob
alguma forma, entre empolado, artificial ou real existiu na verborreia da
privatização.
2013: Fim do projecto de privatização; o ministro que tutela a RTP,
Miguel Relvas, abandona o governo vergado por sucessivas polémicas e casos
obscuros cedendo o seu lugar a Poiares Maduro, o que provoca o abandono da
intenção de privatizar a RTP. Guilherme Costa é substituído por Alberto da
Ponte e surge o Conselho Geral Independente com a finalidade de nomear a
Administração e assim acabar com o vício da tutela em nomear os boys da
política para a administração da RTP. Apesar da evolução do contexto nacional,
entre a fase da tentativa de privatização e o arranque do Conselho Geral
Independente, a RTP Madeira manteve, até hoje, a mesma Direcção promovida pelo
interesse da privatização. Parece que se apostou em vencer por usucapião. A
cada visita inócua de elementos da Administração nacional à região, a esperança
acaba defraudada e a dialéctica beligerante acentua-se entre os funcionários
que se acham públicos e os que se acham “privados” (novos, dóceis ou adaptados
que olham para o seu emprego no outsourcing em condição precária). Sobrepõem
mais confusões, não resolvem a actualização dos equipamentos e não determinam
rumo, estratégias, quadros e lideranças. Só adicionam ruído.
A RTP Madeira é PÚBLICA e não há qualquer indefinição ou dúvida a este respeito, o que significa paralelamente que a actual direcção está deslocada no tempo, do princípio e do espírito de uma televisão de serviço público e não de serviço empresarial ou político que tantas vezes deixa transparecer. A RTP-M necessita de purgar ascendentes, permitir que o mérito vingue numa estação bem equipada, o brio surgirá e os vícios serão abafados. A estação regional, para que nunca mais se coloque a sua existência em causa, precisa de paz, de share e dos madeirenses ao seu lado. A história da RTP Madeira, sobretudo nos último 8 anos, é de cúpulas que, desejando poder, se esqueceram por completo de deixar trabalhar no interesse da Madeira, parece que se sabota até atingir os objectivos e depois logo se vê. A RTP-M perdeu valores antes do tempo, não necessariamente seniores acima dos 50 anos com reforma antecipada, por vezes gente da casa colocada na prateleira, formada e cotada para a TV. Há funcionários por despontar, só precisam de ambiente e condições. A RTP-M necessita de fechar o ciclo que vive sinistramente há 4 anos e cingir-se à linha da RTP Nacional e das recomendações do Conselho Geral Independente. Qual a dúvida?
Com a influência que a Venezuela tem na Madeira, ninguém pia sobre a sua
vocação natural para a cobertura singular do que se passa naquele país e assim
afirmar a estação? Tão fácil seria brilhar e ganhar respeito. Em determinados
dias, a informação da RTP-M parece saber que existe um importante jogo no
estádio mas decide fazer a cobertura sobre 2 ou 3 detalhes nos balneários.
Enquanto o “mundo pula e avança” a RTP-M está na sua “alegre casinha”. Enquanto
uns desesperam lutando por liberdade e democracia na Venezuela outros fazem o
trajecto contrário na Madeira. O telespectador topa e desconsidera o serviço
dos Donos Disto Tudo.
“Mudam-se
os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança: / Todo o
mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades. /Continuamente
vemos novidades, / Diferentes em tudo da esperança: / Do mal ficam as mágoas na
lembrança, / E do bem (se algum houve) as saudades.” (Luís Vaz de Camões in
Sonetos).
Diário de Notícias do Funchal
Data: 19-08-2017
Data: 19-08-2017
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