m dois Sábados abordarei a RTP-M pela evolução da conjuntura dos últimos
anos, naturalmente a abreviar mas, suficientemente informativo, e espero que
fiel, para sabermos como se suicida uma estação de TV. Os nomes são acessórios
mas fazem parte do imbróglio que a RTP nacional, única responsável,
estranhamente permite e não resolve.
A RTP-M encerra em si própria um excelente guião para uma novela em
prime time. O ambiente tórrido que se vive na estação deve-se à circulação de
nomes em vez de objectivos a bem do serviço público. Ao abordarmos os problemas
da estação, chegaremos então a nomes com menos subjectividade nas acusações. A
permissão da conjuntura é que dá importância aos nomes. Arranquemos com umas
perguntas. Porque não estão os madeirenses incondicionalmente com a sua TV?
Porque houve indiferença atroz quando se insinuou o seu encerramento? Quem
falhou durante todos estes anos na actualização dos meios técnicos para trazer
outro entusiasmo aos funcionários? Que objectivos coloca a RTP-M aos seus
funcionários? Qual a idoneidade das lideranças? Tem um desígnio ou simplesmente
não há moral? Trabalham para que share? Porque é que em algo tão exposto segue
a tradição tachista na região? Porque é que quanto mais formado e experiente na
área mais se “emprateleira”? Há 30 anos, a RTP-M abria a emissão às 18:00, a
mesma hora dos nossos dias, excelente retrato da estagnação para uma TV que já
deu “Bom Dia Madeira”.
Recuemos 30 anos
na RTP-M. 2ª metade da década de 80 até 1997: Armindo Abreu, o Director que
inaugura as novas instalações da RTP-M, no Caminho de Santo António (1995),
reforça a produção regional, onde inclui mais desporto, e aumenta o número de
transmissões em directo de eventos. Em 1997, o Telejornal das 21 horas surge
com notícias regionais a par da actualidade nacional e internacional. Um novo
noticiário entra para a grelha, o das 14 horas, o programa “Alpendre” também.
1997-2003: Carlos
Alberto Fernandes conhecia profundamente a RTP Nacional e chegou à liderança
depois de ser subdirector de Armindo Abreu. Foi o director técnico do canal
Tele Expo que juntou a RTP e a SIC para a transmissão dos eventos da Expo 98.
Esta posição privilegiada deu-lhe a oportunidade de trazer câmaras digitais e
equipamentos de montagem para a RTP-M, parte do espólio da Tele Expo. O
Telejornal das 21 horas passa a chamar-se Jornal das 21, para se diferenciar da
produção do continente, e dedica-se integralmente às notícias regionais. Com as
novas condições técnicas surgem os programas de desporto Estádio (diário) e o
Fora de Campo (semanal).
2003-2005: Luís
Calisto, vindo da imprensa, deu prioridade às notícias cobertas pela estação
para obter diferenciação. A produção regional dedica-se a novas áreas como, por
exemplo, a pesquisa sobre os Verões do passado, documentários e outros
programas de informação gravados.
2005-2010: Leonel
de Freitas lança o Bom Dia Madeira, inovando com a abertura da emissão às 7:30.
Promove debates da actualidade no Telejornal Madeira após a leitura das
notícias. É uma altura de lançamento de novos programas.
2010 - ... :
Martim Santos, reduz as horas de emissão, com abertura às 17 horas no Inverno e
às 19 horas no Verão com encerramento entre as 23 e as 00:00 horas. Uma TV com
4 a 6 horas de emissão que naturalmente extingue a produção fora desse horário
(ex. Bom dia Madeira e noticário das 14 horas). Cria novos programas de pós
produção e aumenta a duração dos programas gravados e em directo. Adiciona
novos formatos de Verão.
Os directores
profissionais de rádio e de televisão que assumiram a chefia da estação foram
Armindo Abreu, Carlos Alberto Fernandes e Leonel de Freitas, os restantes
directores e alguns quadros de confiança fizeram comissões de serviço com
diversas origens: exército, EEM, hotelaria e imprensa escrita. Todos estes
cargos vagueram ao longo dos anos por um parecer vinculativo do Presidente do Governo
Regional (GR) e consequente decisão final do Conselho de Administração da RTP
até ao Governo da República Durão Barroso/ Santana Lopes. Por esta altura passa
a decisão simples do Conselho de Administração até aos nossos dias.
2010: Guilherme
Costa tinha como vice-presidente José Marquitos, bem relacionado com
empresários e políticos da Madeira, que os dá a conhecer ao seu presidente
durante as férias, no Verão de 2009, no Porto Santo. Este é o primeiro momento
do ascendente de Luís Miguel Sousa sobre a RTP-M através da amizade e
proximidade com o então presidente da RTP. É também nesta ocasião que a RTP-M vislumbra
um futuro mais indefinido. A RTP nacional vivia, na altura, uma possível
privatização, questão que dividia o governo de coligação PSD/CDS em funções na
altura. Tutelado pelo ministro Miguel Relvas, Guilherme Costa promoveu
contactos com empresários em Angola e na Madeira que mostraram apetite por uma
eventual privatização do canal RTP da Madeira. A RTP-M era Pública ou privada?
Nada havia mudado, era pública mas, com exposição privada. Sem qualquer decisão
tomada pela RTP nacional, a tentacular vertente privada evolui tacitamente a
partir dos empresários da Madeira. Os funcionários surpreendidos pressupõem que
algo “combinado” ocorre sem valor legal. Martim Santos, jovem ex quadro do
Grupo Pestana e co-explorador do Café do Teatro com seu padrinho, assume
funções na RTP Madeira, sem experiência em empresas de comunicação ou TV, o que
muitos funcionários da casa, bem mais preparados, sentem como um ultraje e uma
ingerência. É o momento em que se acentuam os desacordos, uns vendem-se outros
não, arranca uma era de calculismos e sobrevivências, ainda para mais com um
impávido e apático Conselho de Administração que não parece de confiança. Os funcionários
consomem-se num silêncio e a estação definha a cumprir o horário.
(contínua
no próximo Sábado)
Diário de Notícias do Funchal
Data: 12-08-2017
Data: 12-08-2017
Sem comentários:
Enviar um comentário