segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Ferry ferra fogo

 atenção dos madeirenses ao assunto do ferry, para a ligação marítima da Madeira ao continente, provém dos benefícios claros que usufruíram. Experimentaram o buffet self-service dos transportes marítimos de passageiros e carga numa amplitude maior. Entenderam que o ferry é a melhor ponte para o seu desenvolvimento, suportado pela continuidade territorial nas relações humanas, comerciais e de lazer. A autonomia de acções que o ferry confere aos seus clientes cria um instinto de co-participação na operação, em benefício da celeridade e do menor custo sem “dumping”. Torna a Madeira competitiva. Assim, nasceu a estima e o sentido de posse por este serviço. Como consequência, surgiu também a revolta quando o perderam.

Politicamente, o abandono do ARMAS do serviço regular é o momento em que o Jardinismo tomou consciência da erosão aguda, longe de pensar que teria mais efeito do que a célebre cena dos Barreiros com a ideia do clube único. A impopularidade disparou para políticos e empresas do sistema. Não foi mais um caso em 40 anos. A lealdade com parceiros e o impulso de auto-defesa é legítimo mas, a lealdade ao voto dos madeirenses que entregam o poder está acima.

Com a renovada governação do PSD, criou-se um corte temporal na abordagem ao assunto do ferry. O executivo tornou-se proactivo para a retoma do serviço mas, o melindre está latente. Sem hipocrisias, a sociedade está desconfiada, os recentes desenvolvimentos colocam sob observação negativa uma auscultação que era internacional, por via do Governo da República que, acaba nas mãos da APRAM, entidade que detém um fraco historial na defesa dos interesses da região. Todos têm presente a falta de pulso para disciplinar o uso da única rampa Ro-Ro no porto do Funchal. Por outro lado, a expressão “doa a quem doer” vai passando do estado sólido para o gasoso, numa transferência consciente de um assunto importante da vida da região para mãos descartáveis. A mobilidade aérea fez mossa e alguns aprenderam a se proteger.

Numa altura em que os melhores nesta matéria não marcam presença e a abertura à sociedade civil é inexistente no órgão do PSD vocacionado para isso, o conforto para decisões difíceis, fruto de uma leitura da sociedade, das necessidades e de uma vaga concordante é escassa. As discussões estarão nas páginas dos jornais ou na casa da democracia. A maioria parou para ver e o PSD, executivo ou não, acantonou-se. O PSD não sabe envolver a sociedade nos assuntos quentes e é surpreendido.

A satisfação dos madeirenses nunca poderá ter uma solução inferior à já experimentada pois isso seria interpretado como mais um enredo da cartelização. Mereceria reprovação. Situações acessórias agudizam novamente a desconfiança de muitos madeirenses. Não há dinheiro para mudar a lota de lugar e construir uma segunda rampa Ro-Ro mas, há engenho para obter financiamento para um museu no porto. Se já falta espaço para os movimentos provocados por um ferry, imagine-se dois. Precisamos de manobrabilidade, qual o contributo? Estão a desadequar os espaços do porto como se mais cidade não houvesse. Evitam a CMF? Dizem que o mar vem buscar sempre o que lhe tiraram, eu acho que o porto faz parte. Para ser desconcertante, direi que os passageiros, carros e mercadorias do futuro ferry não vão realizar a operação numa paragem da Horários do Funchal. Estarão estas observações erradas porque existe muito espaço no Caniçal e um navio pode transportar passageiros e carga mas não ser um ferry? Estará o governo a se denunciar com outras notícias?

Para além do espaço para a manobrabilidade no porto, já se deveria ter um projecto para um parque de apoio, relativamente próximo, para aguardar e organizar as entradas na rápida escala que se pressupõe num ferry. A parte das caravanas, em anexo ao mesmo espaço, deveria ter condições para estadias.

Devemos ter serviços de ferry intermodais (tráfego misto ou múltiplo), que possibilitem interligação com outros modos de transporte no espaço europeu. Que não haja a tentação de aderirmos a singularidades por pressões. Uma empresa que use um ferry no Canal da Mancha, ou qualquer outro da Europa deve, nas mesmas condições, entrar no ferry para a Madeira. Com regularidade, compatibilidade e organização, o ferry ganhará a qualquer outro transporte e deverá existir todo o ano. Não nos isolemos com um ferry.

Quanto ao sucesso da operação, o governo deveria estar já a preparar, com um sentido mais empresarial e paralelo ao ferry, a sua situação como cliente. Deveria acentuar a sua aposta em novos eventos derramados pelo calendário turístico mais frágil do nosso destino. O governo pode contribuir positivamente no arranque do serviço tendo o retorno da aposta com o IVA, e este, deveria contribuir para o plafond do subsídio. Ajudaria a acalmar um tique nervoso que gera meias apostas, totalmente subordinado ao medo de que o plafond da mobilidade se esgote.


As empresas da região já têm experiência em como potenciar o regresso do ferry, só precisam de explorar melhor e diversificar a actividade. O ferry pode trazer novos investidores com o advento de uma renovada realidade. Terão, para avaliar, 3 perguntas a fazer, uma delas é sobre o ferry com as condições de transporte, a sua regularidade e extensão no tempo. É preciso um ferry para todo o ano, sem interrupções, numa concessão alargada que dê tranquilidade ao investimento.

O governo terá pouca brecagem, ou procura um processo pela competência e idoneidade (ninguém espera o contrário) ou o ferry ferra fogo. Num ápice se gera o mergulho eleitoral, o tempo de ler uma notícia, tal como sucedeu ao CDS quando decidiu pactuar de forma dúbia, sendo a favor do serviço mas pervertendo para um dos lados, o que foi visível nas suas últimas listas eleitorais. O eleitor percebeu.
Só há uma solução, decidir no interesse da região promovendo um mercado livre, competitivo e concorrente.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 26-10-2015
Página: 7
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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O fim da política reside na pessoa humana

O PSD deverá, com humildade, encarar o que se está a passar e, encontrar em si as respostas para o desfecho resultante das eleições. Deverá pensar noutro isolamento que possuí, coligado com o CDS, para maximizar as forças, não encontra mais ninguém à direita. Se surgirem novos partidos nessa área vão competir pelos mesmos votos. O PSD deverá pensar que fez o máximo que podia até porque os novos emigrantes não votaram. A lição que retira é a máxima de Sá Carneiro: o fim da política reside na pessoa humana. Eu acrescento, independentemente das circunstâncias, até porque os humanos-eleitores é que votam, as instituições só condicionam o voto, por vezes com resultados contrários. Quando tiram quase tudo aos eleitores, estes já não são susceptíveis de terem medo dos argumentos e procuram uma represália. O grande problema é se a oportunidade dada a outros se traduzir num sucesso, desmorona-se todo um argumentário com 40 anos. Se o desfecho está certo ou errado já pouco importa porque simplesmente é possível e legal. Pensaram em tudo, só não pensaram que iam às cordas assim, sinal de que devem ouvir todos os que têm uma mensagem e não ridicularizar nem ter o prazer de contrariar gratuitamente, só porque o poder manipula. Se ainda querem poder actuem com humildade porque a arrogância só tem trazido anti-corpos.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Muita facadinha

Pequena opinião no DN de hoje:


Diário de Notícias do Funchal
Data: 06-10-2015
Página: 8
Link para o apontamento só para assinantes do DN: Muita facadinha


A coligação foi eficiente e o PS displicente.

assos e Portas vão agora aplicar o que deveria constar em letrinhas pequenas no seu programa eleitoral com uma maioria simples. António Costa entra em modo de maratona, ganharei só não sei quando ... se calhar até nunca se repetir a destreza da campanha dentro do seu partido. Os dois lados têm dificuldades mas, o Costa sorridente na derrota, como que a ver o jogo todo terá, ao contrário do que se pensa, mais. Por ventura, volta a não considerar a capacidade do adversário. Qualquer obstáculo na governação servirá para a coligação se tentar auto-derrotar, para ser vítima e em novas eleições conseguir o “Danoninho” que lhe falta. Temo que a falta de estratégia e de discussão no terreno da coligação, evidenciado na campanha, se repita na nova legislatura, por parte do PS. A piada disto é que vivemos num surrealismo, todos definem a realidade que querem como sombras na alegoria da caverna. A vida prossegue, tão entretidos com a política, haverá lugar para o povo?


A nível regional:

Há muito trabalho para fazer no PSD, perdeu 9.346 votos em 6 meses, como quem diz, das Regionais para cá, e 21.421 votos na comparação com as outras Legislativas Nacionais de 2011. A unidade não existe, vão ter que trabalhar com todas as fatias do PSD-M. O que mais desceu? Os votos dos militantes desprezados e alcunhados. Há uma experiência de contacto com o povo desprezado por novatos de peito cheio mas, há também excepções e a melhor chama-se Rubina Leal. Quem fizer contas vai se deparar com ela.

O PS respira no limbo das insanáveis divisões que espreitam sempre um desaire. Subir na votação, de tão mal que estava, deve ser encarada com humildade e entusiasmo. O PS precisa de nova militância para dar força ao novo projecto. As autárquicas estão a dois passos e, ou se preparam ou vai correr mal. A estratégia do PSD já está no terreno. Não se ganha por acaso.

O BE teve a confluência de vários factores para o seu resultado, um bom candidato regional com formação onde interessa na política, o efeito galopante do feminino nacional e o meio-termo que transparece ao eleitor para poder receber o voto dos necessitados de humanidade. Se agarrar a oportunidade, sem extremismos, segue em frente.

A JPP está a perder folgo, quiçá com uma governação autárquica que já faz mossa. O importante a reter é que, pela segunda vez, a JPP deita olhares para fora do Concelho de Santa Cruz, para poder crescer mas, os seus eleitores são voláteis em casa.

A CDU cumpriu mas está com um travo na boca, o BE ultrapassou, vê-se perante a realidade de que a meia dose resulta mais do que a dose completa. O povo parece que gosta de moderação, do sorriso, do quanto baste responsável porque o que importa são os resultados práticos exequíveis.

O CDS, estica, estica e estica mas não dá. Metem toda a dedicação em campanha, exagerando nos meios. Depois tudo vai ao ar por se associarem a lobbies com candidatos cansados. A experiência é uma faca de dois gumes, leva velhos costumes ou sabe onde satisfazer o eleitor? Parece que interpretaram o primeiro. Se não souberem reconquistar o seu espaço tenderão a desaparecer, até porque o PSD precisa de se alimentar numa direita cada vez mais reduzida. O CDS-M é uma extensão do CDS nacional.

As sondagens, de rever, podem ser informativas ou dolosas. Muitos interesses concorrem em cada eleição e as sondagens poderão ter os seus. Como vigiar, conferir, como não condicionar? Será que o eleitor sofrido quer ser dos que ganham? Esquecem-se de si próprios no meio de tanto circo?

Comentadores, decidam-se! Querem estar em todas? Ou de um lado ou de outro. Ganhar dinheiro para produzir avaliações a seu gosto é feio. As campanhas mostram como tudo encaixa tão bem. Depois da coligação ganhar, o jornal Público de hoje já diz que Marcelo ganha na primeira volta das presidenciais. Se o povo abre os olhos ...

Espero discutir pormenores da governação nas presidenciais, temos que nos adaptar à realidade, tudo ao contrário. Tende fé, certezas no actual cenário são poucas.

Mais considerações para o artigo no DN se o tempo que decorrer não matar o assunto.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Não governo para eleições

falta de sensibilidade social marca o mandato que ora finaliza, mesmo com todas as atenuantes do resgate. Estamos a avaliar este mandato, o outro já foi, o momento e os personagens. Passos fez da discórdia entre portugueses um método para implementar reformas duvidosas na aflição de cortar despesa. Do que disse e do que realmente fez nasceu o reconhecimento de mentiroso em sondagem.

O descrédito da palavra tem consequências pois é com ela que se comunica, ainda assim, a verdadeira campanha eleitoral é de 4 anos de acções e desaforos. A tentativa do “ou eu ou o caos” não funciona, os eleitores perderam demais, muitas vidas estão irreparáveis e agora não sentem medo. O discurso emotivo também não funciona a paredes-meias com a injustiça, o coração é cada vez mais de pedra, até nos doces grisalhos. Imagino o eco que encontra o discurso do trabalho feito, que deve ser recompensado, sobretudo nos funcionários públicos onde nem na carreira encontram alento. Resta saber o grau de desânimo que leva à abstenção, contando que Passos neutralizou muitos votos, claramente contra, com o “emigrem”.

Foto de Justin Russo/ Solent News
Como aqui chegámos? Passos deslocou o PSD da social-democracia para um neo-liberalismo obtuso, por convicção e na excelente oportunidade oferecida pela Troika para concretizar o seu ideário e, foi mais além, de forma desumana com o preciosismo das folgas orçamentais. A austeridade não foi um contratempo político, antes um pretexto muito a gosto. Por isso não há passo sem confusão nesta campanha que já deu lugar à desembestada. Acabar com a classe média serena é semear um país ingovernável.

O povo não deseja a ilusão “naïve” do Syriza mas gosta de confiança e esperança, de vida, um rumo para pagar sem deixar de viver. Temos uma economia dizimada e, para além do verdadeiro desemprego e da simulação do contrário, 900.000 empregos estão em 20% das empresas nacionais em dificuldades. Estamos sem anéis para uma próxima crise e não se entende a falta de coragem para ousar. Tivemos uma equipa governativa que não tentou alternativas, não moldou o guião de outros interesses mantendo o inevitável. A criatividade é bem-vinda num país tão vigiado pelas instituições europeias e financeiras. Qual o risco e quem vai votar?

Passos eliminou a crença na supremacia da acção política em favor da supremacia da acção financeira e deixou a economia para segundo plano. Assim não se paga, troca-se e acumula-se empréstimos, dívida. Provocou uma grave crise de identidade até entre os militantes e simpatizantes social-democratas. Com a saúde, a segurança social e as reformas também eles hesitam. Passos não entende que se respeitar a ideologia do PSD, haverá um capital de confiança e um eleitorado fixo, independentemente das qualidades ou não do líder.

O PSD precisa de orientação política. O desnorte nos argumentos, onde Passos se emaranha com explicações e perde, é sintoma das decisões avulsas de outros.

Com este quadro, Passos elaborou listas onde os candidatos tacitamente se comprometem a renunciar ao mandato se divergirem das orientações do PSD nas votações da A.R (Conselho Nacional 10 Julho 2015). Não sendo imposição, sabemos bem o que significa. Perdeu-se a noção da representatividade dos eleitores, basta que seja definido pelo futuro Grupo Parlamentar. Com esta predisposição, ter experiência em coligação será um desalinho certo quando já não enfiaram o Barreto. Assim nasce a mordaça dos lobbies. Vamos votar para aniquilar a democracia representativa? Facilitando quem não respeita a Constituição? Não se deve abrir precedentes. Política sem liberdade será um despotismo insuportável. Vamos de autonomia cambada para vergada e sem opinião na A.R.? Quiçá com 4 ou 5 deputados com voto condicionado? Imiscuir mais Passos nas decisões que a autonomia nos confere é enfiar-se num colete-de-forças que já foi provado.

Os portugueses deixaram de escolher um candidato para lhes dar uma solução global, essa é a via do arrependimento. Votam cirurgicamente, em consciência e não toleram armadilhas.

Cirurgicamente? Se as sondagens irritam, trocam as voltas pois as suas vidas não são de certezas. Se o banco lhes foi desonesto, votam na Mariana para sentir o prazer de trucidar o salpresado mas espreitando o aguenta-aguenta. O ar impávido de Passos vai além da verdade? Votam na Catarina, porque faz roçar os dentes. Levam as regalias sociais básicas, aplicam o camarada Jerónimo. O Tribunal Constitucional safa algumas regalias? Distribuem a votação para evitar uma maioria de 2/3 no arco da governação e a consequente revisão constitucional. Detectam candidatos que vão representar lobbies? Afundam-lhes a votação. Alguns até votam no Passos, desde que o Pacheco e a Ferreira Leite passem o dia a rachar lenha.


“Somos um partido de esquerda não marxista e continuaremos a sê-lo.”
Palavras de Sá Carneiro, em 1975, convicto de que o fim da política residia na pessoa humana. Os argumentos do actual PSD estão a deixar este espaço vago, por isso o PSD tenta coligado quando antes era possível só.
Sem paz, pão, POVO e liberdade, Portugal não existe e o PSD também não. O povo anda à procura de humanidade na esquerda, não importa se marxista. Afinal governar para eleições faz todo o sentido e ir votar também.

Quem estima ser sucedâneo deve aprender com a ante-estreia.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 24-09-2015
Página: 10
Link: Não governo para eleições


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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Adeus paquete Funchal

ssustou-se? Sinal de que ainda respeita os símbolos nacionais não elegíveis para o Panteão Nacional, por relevantes serviços prestados ao país. Estamos no limiar, o colega Lisboa foi desmantelado.

Há 54 anos que invocam o nome da capital da Madeira para identificar o último paquete da época áurea do transporte marítimo de passageiros em Portugal. Este ícone nunca mudou de nome e teve vivências excepcionais. Não sendo proprietária ou armador, a Madeira, por via desta estreita ligação, não se deve colocar alheia ao impasse que imobilizou o paquete após o último cruzeiro à passagem de ano na Madeira.

O paquete, a torre da Sé e a torre da C.M.F, ícones do Funchal. Foto de Luís Fernandes.
A ordem de construção do Funchal data de 1959, pela empresa Insulana de Navegação, aos estaleiros navais de Helsingør Skipsværft que deram forma ao projecto de Rogério de Oliveira. 2 anos depois estava construído o maior navio daqueles estaleiros dinamarqueses. Serviu nos primeiros anos nas ligações entre Lisboa, Açores, Madeira e Canárias, integrado numa frota constituída por mais de duas dezenas de navios, onde se destacavam o Infante Dom Henrique, o Santa Maria, o Vera Cruz e o Príncipe Perfeito.

A idade do paquete Funchal e as exigências do “Safety of Life at Sea”, para que possa navegar em cruzeiros, limitam-no mas, o facto preponderante, em boa consciência, é de que todos gostam, veneram e publicam fotos mas, quando chega à hora de escolher um cruzeiro optam por outro navio, condicionados pelo marketing do maior, do novo, mais atraente ou inovador. Esquecem-se dos clássicos. Foi um grego, George Potamianos, que salvou o paquete uma vez. Quando será a vez dos portugueses sem Passos em falso?

O paquete Funchal e a cidade que lhe deu o nome. Foto de Luís Fernandes.
Se Portugal quer acreditar na sua vocação marítima, realizando em vez de invocar os já enervantes clusters do mar ou economia azul, vai ter de deixar a verborreia. Precisamos de pragmatismo e resultados.

Vivemos tempos difíceis, onde melhor se definem os bons, os regulares e os maus governantes, pressupondo que não há estadistas. A nossa ilha gastou 100 milhões numa marina que não existe, pode-se redimir com um enquadramento legal rentável, mesmo com outras prioridades financeiras, para facilitar uma solução privada ao paquete. O Funchal é amigo de “todos”, um “crownfunding” pode ajudar, encaminhar os descontos no IRS também. Criar soluções que mantenham o Funchal e produzam receita para o(s) investidor(es) são os desafios.

Nem tudo é repto, um grande trunfo reside na profunda renovação efectuada ao navio há relativamente pouco tempo, para além de ter um justo tamanho para ser explorado na Madeira. A sua recuperação custou 20 milhões de euros e está à venda por 18 milhões. Por este caminho, imobilização, desvaloriza-se até um sucateiro lhe deitar a mão. Outros navios, com uma segunda vida, foram recuperados de situações bem piores. Foram necessárias grandes campanhas durante anos para salvá-los. As principais referências vão para o Queen Mary, o Rotterdam V, o Kristina Regina (Bore), em exploração, havendo ainda os casos do Queen Elizabeth 2 e o United States, imobilizados, entre outros de menor dimensão.

Paquete Funchal a 31 de Dezembro de 2014, prestes a fundear. Foto de Luís Fernandes.
Sabendo das intenções em avançar com uma unidade hoteleira para o Cais Norte, a Madeira poderia reconverter os planos e trazer o paquete Funchal à nossa cidade para servir de hotel multifuncional (alojamento, museu vivo, eventos e visitas) numa estrutura fixa dentro de água, demonstrando ao país que sabe preservar o património, a história e a cultura, até porque por aí tem futuro a explorar. Visite estes exemplos: www.msborea.fi, www.ssrotterdam.com.

Brasão do Funchal na proa do paquete. Foto de Luís Fernandes.
A cidade do Funchal, com o seu paquete, poderia juntar sinergias com outras cidades nas mesmas circunstâncias, promovendo um circuito mundial que satisfaça um novo nicho de mercado.

A Madeira já tem notoriedade para clássicos, basta observar a importante colecção de automóveis, com alguns em circulação para serviços de charme. As quintas madeirenses, os museus, as igrejas, o vinho, um Madeira Story Center e uma “Esquina do Mundo” recuperadas, entre outros como os carros de cesto do Monte e porque não os de bois, poderão compor uma viagem no tempo, criando diferenciação ao nosso turismo. O paquete Funchal pode ser mais um componente do bom sabor dos velhos tempos.

Estão avisados, não adormeçam.


Fotos: no DN e no blog, da autoria de Luís Fernandes, ao qual agradeço a pronta colaboração.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-09-2015
Página: 11
Link: Adeus paquete Funchal


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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Temulência na APRAM

stamos no período do ano com menos escalas de cruzeiros no Funchal. Não pertencemos a qualquer temporada, nem de Verão nem de Inverno, em circuitos permanentes ou alternados, salvo excepções. A redução de 75% da TUP para os cruzeiros, de 1 de Junho a 31 de Agosto, não surte efeito pois a maior rentabilidade dos itinerários alternativos não está provada. Não motivamos a montante com quem desenha os itinerários. Satisfaz-nos os números das épocas de transição de temporada, uma procissão para outros destinos com menos passageiros. Este mês de Julho, com 4 navios em 31 dias, é celebrado como o melhor de sempre, talvez para esquecer o Cuba 9 – Madeira 0, com a perca das escalas do MSC Opera.

A beleza da Madeira e as suas atracções não são consideradas para frequentar o destino, caso contrário haveria, por exemplo, uma maior afluência na Festa da Flor, época alta de cruzeiros. Os navios partem sem que os passageiros assistam ao cortejo.

Valemos pela localização geográfica nas travessias Atlânticas ou como adição a um itinerário dirigido às Canárias. Excepção feita à Passagem de Ano.

O Funchal, com oscilações residuais, que derivam da crescente dimensão dos navios, está estagnado. O crescimento da indústria de cruzeiros reflecte-se directamente nos concorrentes. Temos cruzeiros que vão às Canárias (Las Palmas cresceu 12%) sem escalas no Funchal e travessias Atlânticas que preferem Ponta Delgada (cresceu 70,7%).

A notoriedade histórica da Madeira provém da emigração, do vinho ou das viagens anuais de lazer. Produziram factos e atraíram gente famosa. Não temos um calendário de efemérides que mantenha o Porto do Funchal em difusão gratuita. É necessário trazer o saudosismo, promover a curiosidade e estabelecer a preferência.

Na era do excesso de informação, primamos pela ausência na área dos portos, não se vislumbra uma publicação em órgãos da especialidade, nem se explora a internet. A presença em eventos é imperceptível, na feira de Miami, coloca-se um expositor estático, sem contactos pessoais ou informação útil. Estamos entregues aos spotters nas redes sociais, pela qualidade fotográfica. Ainda assim, são tratados com estupidez porque “alguém” acha que perturbam a segurança. Seguro é o ritmo do bocejo, do café prolongado ou das ameaças, com vias de facto, àqueles que ousam se indignar.

A APRAM nunca fez uma aposta séria nos cruzeiros de expedição, pensando sobretudo nas Selvagens e nas Desertas mas, contemplando o restante arquipélago. É um nicho de mercado para navios pequenos, preparados para todo tipo de desembarques e com boa clientela que procura a observação da vida selvagem em locais recônditos.

Não se atende à necessidade de definir um cais de operação, sem limitações, para o ferry ou ferrys. A área destinada à movimentação de veículos e passageiros é exígua e conflituosa, como provamos todos os dias e nos lembramos dos diferendos no passado com dois operadores.


A interpretação e aplicação do “International Ship and Port Facility Security Code” é excessiva, obsessiva e fomenta a falta de competitividade do nosso porto. Basta ser cruzeirista e comparar com outros destinos. Esta obsessão de segurança roça a paródia quando se permite que qualquer pessoa mal intencionada vá aos trolleys da PSL colocar uma “encomenda” e ir, calmamente, ver a partida desde um miradouro.

Existe uma reserva “natural” de gaivotas no porto porque destruíram o movimento permanente com a inexistência de actividades, visitas ou comércio.

Na gare, os passageiros não circulam pelas mangas devido a problemas técnicos desde a montagem, anulando também o movimento no passadiço que tapa toda a vista sobre a cidade. Os passageiros descem directos dos navios para o cais. O investimento findo, em infra-estruturas, rotunda numa regressão.

O nosso porto não dá conforto aos passageiros. Sem comércio conexo, falta o “wireless” livre e as comunicações para as tripulações. Mapas existem, se forem distribuídos. Alguém na APRAM faz cruzeiros?

O asseio no porto deve ser permanente, se surgir norovírus, devido ao guano que vai no calçado para bordo dos navios, haverá averiguações. Se for numa das 9 companhias do Grupo Carnival multiplicará o efeito. Os madeirenses também merecem o asseio.

O senhor secretário da tutela foi uma esperança que se perdeu. Não detectou a urgência em colocar a APRAM a funcionar. Adiou por 2 anos com o mesmo marasmo, somando mais 3 para produzir efeito com uma nova estratégia. Este mandato finou-se, perdemos 5 anos. Tempo é dinheiro, entre os dois, o senhor secretário preferiu poupar no segundo para pagar na mesma com o primeiro. A concorrência progride connosco na salmoura dos interesses instalados e dos afastamentos maldizentes.

É urgente fazer apostas, estamos a ficar para trás.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 22-07-2015
Página: 10
Link: Temulência na APRAM

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Reabilitação …dói sempre.

osto de empreendedorismo, em conjuntura sem vícios ou deturpação, com instituições que funcionem ao ritmo empresarial. Não o escolheria para desígnio. Temos que tratar da “saúde” do país para levá-lo ao empreendedorismo. O nosso mercado está a ser ocupado aceleradamente por estrangeiros com melhores condições do que nós portugueses. Poderá vingar o empreendedorismo nacional com a expansão e diversificação das áreas de negócio dos “Vistos Gold” que já se notam?
Empreendedorismo é uma palavra popular no seio da governação, uma visão de promontório com uma panorâmica vasta e livre. Pena estar projectado sobre um“exército” mutilado ou desertor (emigrado), sem capacidade para corresponder. É o resultado de se dizimar a classe média que vê na emigração a solução. Quem faz a ignição com tão altas taxas de emigração e pobreza?

70 a 80% dos portugueses querem “empreender” na emigração, uma das conclusões do estudo da Decoding Global Talent. Se nos cingirmos aos jovens, 94% consideram essa hipótese. 63% dos inquiridos responderam que o fariam em qualquer área ou profissão, mesmo não relacionada com a sua formação académica. Há poucos dias, uma profissão bem considerada mostrou que 65% dos seus formandos querem emigrar, são os médicos que nos fazem falta. Empreendedorismo ou reabilitação? Observa-se o contágio da não reabilitação aos potenciais promotores de empreendedorismo.

A palavra central para fazer “reset” é a reabilitação, os novos alicerces do país. Uma parte da população, em idade activa, não tendo prevaricado legal ou criminalmente, é colocada numa zona de ninguém por ter estado na actividade económica durante a crise que persiste. O problema é tanto mais grave porque se torna numa característica comum na sociedade. Precisamos do ponto de partida, acabar com os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Deve-se permitir que o biscate e o paralelo regressem ao“contribuinte”. São muitas vezes a única solução. Portugal tem muito mais para aprender com os EUA do que com a Europa, nesta matéria. Os EUA não “expulsam” infortúnios da actividade económica. Mantêm as responsabilidades mas permitem, sem contágio, que um “player” de mercado possa produzir riqueza e pagar o mal-parado. Por aqui desejam o impossível, com a multiplicação do insucesso, o ciclo da pobreza e a multiplicação de juros sobre juros a quem nem tem emprego e acaba por emigrar. Portugal “investe” no mal-parado.

A reabilitação implica olhar para trás, avaliar as causas que evitariam a repetição dos erros e criar um plano que corresponda às necessidades. Levaria muitos “teóricos” a encarar as consequências das políticas de austeridade, apontando os reais responsáveis. Um foco sobre a máquina de triturar conhecimento, experiência e investimento.

As publicidades épicas dos parceiros do desastre, onde “é para avançar”, são uma caricatura sobre a celeridade dos processos. Empreendedorismo demagógico de TV que nada tem a ver com o mundo real ou empresarial.


Na zona da reabilitação estão os que conhecem a deturpação do sistema. Numa segunda oportunidade “limparão” pragmaticamente muitos dependurados no empreendedorismo que, só conferem despesa. São aqueles que estimam a ilusão novata de quem desconhece o sistema mas acredita em si, activa-lhes receitas. Um facto pouco popular no seio dos elementos do “risco zero”. O empreendedorismo, como o conhecemos para o comum dos mortais, nunca está conotado com a certeza. Os que se dedicam a promovê-lo são vigilantes dos negócios garantidos e seguros para uns e o empreendedorismo puro e arriscado para outros.

Intelectuais da transcrição, oradores de discurso alheio, teóricos que nos enfiam em tubos de ensaio, acabem com contabilidade cínica de saldo positivo entre a constituição de novas empresas e as que encerram. Evitam certamente os “mortos”, os “Vistos Gold”, os estrangeiros com melhores condições em Portugal do que os portugueses. Conhecem a existência dos “mortos-vivos”? Para além do investimento estrangeiro, em condições muito especiais, parte das novas empresas são de empresários falidos a lutar sob outros nomes. São aqueles que não podem “fugir” do país nem têm um subsídio de desemprego. O novato empreendedor, que vê isto, quererá entrar no ciclo?

Será este texto um delírio ficcional? Avance com calma, tubarões na costa.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-07-2015

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