ssustou-se? Sinal de que ainda respeita os símbolos
nacionais não elegíveis para o Panteão Nacional, por relevantes serviços
prestados ao país. Estamos no limiar, o colega Lisboa foi desmantelado.
Há 54 anos que invocam o nome da capital da Madeira para
identificar o último paquete da época áurea do transporte marítimo de
passageiros em Portugal. Este ícone nunca mudou de nome e teve vivências
excepcionais. Não sendo proprietária ou armador, a Madeira, por via desta estreita
ligação, não se deve colocar alheia ao impasse que imobilizou o paquete após o
último cruzeiro à passagem de ano na Madeira.
O paquete, a torre da Sé e a torre da C.M.F, ícones do Funchal. Foto de Luís Fernandes. |
A ordem de construção do Funchal data de 1959, pela empresa Insulana de Navegação,
aos estaleiros navais de Helsingør Skipsværft que deram forma ao projecto de Rogério de Oliveira. 2 anos depois estava
construído o maior navio daqueles estaleiros dinamarqueses. Serviu nos
primeiros anos nas ligações entre Lisboa, Açores, Madeira e Canárias, integrado
numa frota constituída por mais de duas dezenas de navios, onde se destacavam o Infante Dom Henrique, o Santa Maria, o Vera Cruz e o Príncipe Perfeito.
A idade do paquete Funchal
e as exigências do “Safety of Life at Sea”, para que possa navegar em
cruzeiros, limitam-no mas, o facto preponderante, em boa consciência, é de que
todos gostam, veneram e publicam fotos mas, quando chega à hora de escolher um
cruzeiro optam por outro navio, condicionados pelo marketing do maior, do novo,
mais atraente ou inovador. Esquecem-se dos clássicos. Foi um grego, George
Potamianos, que salvou o paquete uma vez. Quando será a vez dos portugueses sem
Passos em falso?
O paquete Funchal e a cidade que lhe deu o nome. Foto de Luís Fernandes. |
Se Portugal quer acreditar na sua vocação marítima,
realizando em vez de invocar os já enervantes clusters do mar ou economia azul,
vai ter de deixar a verborreia. Precisamos de pragmatismo e resultados.
Vivemos tempos difíceis, onde melhor se definem os bons,
os regulares e os maus governantes, pressupondo que não há estadistas. A nossa
ilha gastou 100 milhões numa marina que não existe, pode-se redimir com um
enquadramento legal rentável, mesmo com outras prioridades financeiras, para
facilitar uma solução privada ao paquete. O Funchal
é amigo de “todos”, um “crownfunding” pode ajudar, encaminhar os descontos no
IRS também. Criar soluções que mantenham o Funchal
e produzam receita para o(s) investidor(es) são os desafios.
Nem tudo é repto, um grande trunfo reside na profunda
renovação efectuada ao navio há relativamente pouco tempo, para além de ter um
justo tamanho para ser explorado na Madeira. A sua recuperação custou 20
milhões de euros e está à venda por 18 milhões. Por este caminho, imobilização,
desvaloriza-se até um sucateiro lhe deitar a mão. Outros navios, com uma
segunda vida, foram recuperados de situações bem piores. Foram necessárias
grandes campanhas durante anos para salvá-los. As principais referências vão
para o Queen Mary, o Rotterdam V, o Kristina Regina (Bore), em exploração, havendo ainda os casos do Queen Elizabeth 2 e o United States, imobilizados, entre
outros de menor dimensão.
Paquete Funchal a 31 de Dezembro de 2014, prestes a fundear. Foto de Luís Fernandes. |
Sabendo das intenções em avançar com uma unidade
hoteleira para o Cais Norte, a Madeira poderia reconverter os planos e trazer o
paquete Funchal à nossa cidade para servir de hotel multifuncional (alojamento,
museu vivo, eventos e visitas) numa estrutura fixa dentro de água, demonstrando
ao país que sabe preservar o património, a história e a cultura, até porque por
aí tem futuro a explorar. Visite estes exemplos: www.msborea.fi, www.ssrotterdam.com.
Brasão do Funchal na proa do paquete. Foto de Luís Fernandes. |
A cidade do Funchal, com o seu paquete, poderia juntar
sinergias com outras cidades nas mesmas circunstâncias, promovendo um circuito
mundial que satisfaça um novo nicho de mercado.
A Madeira já tem notoriedade para clássicos, basta
observar a importante colecção de automóveis, com alguns em circulação para
serviços de charme. As quintas madeirenses, os museus, as igrejas, o vinho, um
Madeira Story Center e uma “Esquina do Mundo” recuperadas, entre outros como os
carros de cesto do Monte e porque não os de bois, poderão compor uma viagem no
tempo, criando diferenciação ao nosso turismo. O paquete Funchal pode ser mais um componente do bom sabor dos velhos tempos.
Estão avisados, não adormeçam.
Fotos: no DN e no blog, da autoria de Luís Fernandes, ao qual agradeço a pronta colaboração.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-09-2015
Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-09-2015
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