m dos pilares da chamada Geringonça que segura a governação nacional é
o Bloco de Esquerda (BE), sem dúvida, o partido com maior experiência na
matéria. Depois do seu nascimento em 1999, fruto da fusão de 3 forças
políticas: a União Democrática Popular (marxista), o Partido Socialista
Revolucionário (trotskista mandelista) e a Política XXI (socialista),
juntaram-se outros movimentos: euroceticismo, feminismo, LGBT, socialismo
democrático, anticapitalismo, eco-socialismo, sindicalistas, ambientalistas,
etc, para crescer com as causas das minorias. Quando o BE sentir a necessidade
de se tornar verdadeiramente um partido nacional (pelas autárquicas sabemos que
não é), perceberá que a aposta seguinte para crescer é o da moderação e da competência
focada na vida das pessoas, ser o partido da fiscalização por excelência nas
Assembleias, nacional e regionais, com responsabilidade.
O BE nacional teve
momentos conturbados, com desfiliações, afastamentos e confrontos, naturais da
enorme miscelânea que se tinha de entender. Vive uma época estrelada nestes
últimos anos de crescimento e contentamento com a entrada de quadros jovens e
urbanos, altamente qualificados, muito por culpa de uma era de ultraliberalismo
que mandou emigrar. O BE tem-se revelado tecnicamente competente, ao ponto de
muitos desejarem, em pensamento bélico, que os prevaricadores sob alçada da
Assembleia da República caiam nas mãos do Bloco, basta lembrar a banca.
O BE Madeira (BE-M)
é um partido estável, muito por culpa de pouco mudar, tanto que até cristaliza.
Normalmente agita por razões externas, ora pelo efeito do furacão “Katarina”,
ora pelo efeito adelgaçante do Cafôfo. Se o BE nacional já fez caminho e terá
uma crise de crescimento, o BE Madeira tem todo o percurso por fazer quando até
está fácil porque a experiência nacional partiu a pedra e mostrou o caminho.
Com estes antecedentes, dentro do próprio partido, o BE-M poderia replicar o
modelo do continente na nossa região, abrindo-se sem medo aos jovens quadros e
fiscalizando alguma Madeira, política e pública, sacando do armário a enorme
quantidade de esqueletos por descobrir. Verão como duplicam nas Regionais de
2019. Se fizermos uma comparação entre os números das Legislativas Regionais e
o círculo da Madeira nas Legislativas Nacionais, comprovamos o atrás descrito,
os números duplicam ou triplicam em favor das nacionais. O resultado do BE na
Madeira nas últimas Legislativas Nacionais aplicadas numas Regionais colocariam
o BE-M como a 4ª força política na região, à frente da JPP e a morder os
calcanhares do PS, com 5 a 6 deputados. Observar o quadro. Quem tem faro
político sabe que vêm aí tempos diferentes, desafiantes e com oportunidades.
O modelo assente no
sindicalismo tende a esgotar e é muitas vezes responsável pelo discurso
limitado e redondo onde o conteúdo condiciona o aliciamento a novos votantes.
Falta um discurso para toda a sociedade e não só para minorias. Isto só se
consegue com a adaptabilidade dos que estão e o respeito dos que chegam.
Lamentavelmente o efeito Renovadinhos traz receios que não ajudam mas, o BE-M
tem um filão por explorar, sem temores, para não se habituar às boleias que
algum dia podem falhar, o que sucedeu ontem na Assembleia Municipal do Funchal.
Em 2011, Roberto
Almada estava politicamente debilitado, o BE-M foi o único dos 9 partidos que
não elegeu deputados. Na altura, foi pela primeira vez cabeça de lista,
conhecido através da rotatividade que o BE-M impôs na ALR, livre de conceber o
discurso, a estratégia e o programa mas, a sua liderança não foi preparada, deu
barraca. Em 2015, foi humilde, procurou contributos de todos para a batalha
eleitoral, valorizou os militantes históricos ostracizados e beneficiou da
conjuntura que não premiou a coligação regional “Mudança” e elegeu 2 deputados. Cabe agora a Roberto Almada pensar no
passado e avaliar se está a preparar convenientemente o BE para as Regionais de
2019. Controlo e calculismo é como jogar para o empate, dá quase sempre em
derrota. Pode estar a permitir a sucção do eleitorado do BE-M por via do voto
útil, da bipolarização, do movimento de cidadãos ou por simplesmente não provar
a imprescindível utilidade do BE-M no parlamento regional. É hora de envolver
para adicionar entusiasmo e de partilhar a responsabilidade. Olhe para os Renovadinhos
pós autárquicas, está ali uma montra. A rotatividade dos de sempre no mesmo
molde descredibiliza. Pergunte-se e tire ilações do porquê do BE nacional
cativar mais os madeirenses do que o BE-M. É das pessoas? Da estratégia? Se
nada mudou, vai produzir um resultado diferente? Ao observar as listas, parece
que, quando o BE-M aposta em novidade, retornam resultados, a jovem
investigadora nas Regionais, o economista dirigente na CMF nas nacionais. Não
eram figuras públicas mas obtiveram resultados. A vocação do BE-M é para os
madeirenses que anseiam por aragem fresca e não qualquer outra que pratique uma
política do quanto baste. O que sucedeu para se efectivar o salto de 4.850
votos nas Regionais de Março de 2015 para 13.342 nas nacionais em Outubro do
mesmo ano?
Há mais razões para
o BE-M não crescer, a imobilização da sua organização de juventude que não
realiza a captação de jovens para as suas causas nem refrescam as suas
fileiras. A ausência da sua capacidade reivindicativa quando tem influência no
poder, como na CMF, neutralizando a sua imagem e produção para apresentar ao
eleitorado. Quando confunde prioridades sendo o único partido a proteger o
primeiro-ministro na ALR num voto de protesto por não respeitar os órgãos de
governo próprio da Autonomia, entre outros.
Numa
semana onde o movimento “Erradicar a Pobreza” nos relembrou que 32% da
população da Madeira vive na pobreza e que outros tantos estão em risco de
engrossar esses números, também soubemos que o PSD-M continua a governar para
si e para o terço que nunca será pobre à sombra do erário público. O BE-M só
não cresce se não quiser, só falta extinguir a política do quanto baste numa
Madeira de esquemas que rebenta pelas costuras. Já pensaram no que seria um
Bloco com o ADN nacional a actuar na Madeira? Não ficaria pedra sobre pedra,
nem o betão que as une.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 21-10-2017
Página: 30
Data: 21-10-2017
Página: 30
Sem comentários:
Enviar um comentário