omo é que um pai descobre se o filho é
comunista? Quando brinca com o cubo das formas geométricas e inferniza-se para
meter a estrela no quadrado, de repente, levanta-se, o pai acompanha com o
olhar as fraldas ambulantes que desaparecem na porta, ao voltar traz o martelo,
encaixa a estrela no quadrado e aplica-lhe o malho. É evidente que entra e o
puto profere a primeira palavra: “- entrastes!”. O cubo “foice”. Isto define a
ortodoxia que cumpre com o dogma, avante camarada, estás apto para o mais
casmurro partido nacional. A insistência, ora teimosia, já foi persistência que
deu história ao Partido Comunista Português (PCP).
O PCP foi a única organização política
que resistiu de forma estruturada e permanente durante a luta antifascista no
autoritário, autocrata e corporativista regime liderado por Salazar, mesmo após
a Segunda Guerra Mundial, quando o Estado Novo sobreviveu à derrota do bloco
nazi-fascista. O PCP, alinhado com o bloco soviético, agiu durante décadas na
clandestinidade, fiel à estratégia antifascista herdada do Movimento Comunista
Internacional. Na Madeira, durante a ditadura, a organização esteve quase
sempre activa, mesmo com membros presos ou assassinados pela PIDE, obrigando a
muitas reorganizações. Porque definha o PCP/Madeira, com resultados eleitorais
medíocres, depois de tanta experiência? Voltamos à ortodoxia que cumpre com o
dogma. O comunismo não é popular, mais do que uma questão ideológica, é
conotado com regimes ditatoriais que deturparam os ideais comunistas,
relembrando os maus episódios do passado e compactuando com os do presente.
Apoia Nicolás Maduro quando os emigrantes
madeirenses sofrem e fogem da Venezuela? Uma tresloucada governação que ronda o
default para o qual não há fraude à mão para salvar. Com uma queda de
12% do PIB neste ano e de 46,6% nos últimos 4, a Venezuela está sem dinheiro,
ou opta por pagar os serviços da dívida e paralisa ou paga ordenados por mais
um mês e entra em default. Não clarifica uma condenação à Coreia do
Norte? Apoiariam mísseis balísticos em rota com a Madeira se os disparos
tivessem origem num regime comunista? O PCP anda curto ao ponto de não
desaproveitar sequer os marados, possuídos ou idiotas deste mundo, autênticos
duques letais à parte tolerável dos ideais comunistas para os quais deveriam
eriçar a “forfoloto” sobrancelha e estar ao lado do proletariado. Defende o
corrupto regime angolano quando até empresas madeirenses não conseguem sacar
dinheiro de lá?! Só o fascismo faz mal às pessoas? Onde andou o PCP/M quando se
derramaram milhões de Euros desnecessários nas muralhas das ribeiras do Funchal
e no caso Savoy? Tinha vereador, agora não. Onde andam os ambientalistas do
PCP/M em terra tão necessitada e na defesa da linha ferry? Onde anda a luta
contra o grande capital junto dos lesados do Banif? Nem quando o capitalismo
estoirou com país o PCP capitalizou, fazendo como o PSD/M, falando dos erros
dos outros para cobrir os seus. Onde está a posição do PCP/M relativamente à
saúde e ao novo hospital quando tem um militante seu envolvido com o GR mais
preocupado em discutir a vida interna de outros partidos? Anda tudo torto, não
é verdade? Por consagração nos seus estatutos, é justo dizer-se que os
activistas do PCP/M são dos mais presentes para defender os trabalhadores,
prosseguindo os objectivos socialistas alcançados na história do país, porém,
na hora de votar, não vê reflexo disso. Tudo isto parece a martelada na estrela
para entrar no quadrado porque ninguém liga ao balanço de deve e haver, o PCP/M
só liga ao haver.
Com a mentalidade do PCP nenhum
Republicano censurava Trump, nem nenhum PSD o Passos Coelho, “o que faz falta”
ao PCP é acabar com os seus tabus. O mais obstinado partido português tem todo
o direito e liberdade de ser comunista mas modernize-se, não se resuma à
pressão dos sindicatos neste arquipélago privado de condomínio fechado onde
qualquer dia substituem o proletariado por escravos do açambarcador poder
económico, num quadro onde não nascemos o suficiente e muitos partem porque não
aturam isto. O eleitor está mais exigente e atento às atitudes, com o poder e
com a oposição, vota cada vez menos por seguidismo e o PCP/M mergulha no exacto
problema do PSD/M: os idosos estão a partir. Hoje, as novas gerações trouxeram
outra capacidade de entrosamento para as clivagens ideológicas, nela está o
segredo para o PCP/M subsistir. Usando do humor, coisa que nunca se viu, até
gozava da ortodoxia do PSD/M no dogma do betão.
O PCP/M acaba de sair de um mau resultado
autárquico, globalmente perdeu mais de metade dos votos se comparado com as
Autárquicas 2013, um resultado consentâneo com as suas ausências por não
conseguir fazer listas ou por candidatos ausentes em concelhos chave (Funchal)
mas, também resultado de um PCP/M avesso a alianças e a coligações, exceptuando
a habitual com “Os Verdes” (qual dos dois vale mais?). Um orgulhoso erro e
obsessão comunista que se desculpa com os outros porque o PCP tem sempre “a
história do seu lado”. Nestas autárquicas viram-se movimentos de cidadãos mais
mobilizadores do que o PCP/M.
Ao PCP/M não se exige que rompa com o
passado mas que mantenha o ADN lendo a conjuntura com gente, ideias e
relacionamentos novos. O PCP/M tem soluções para vingar, a Sílvia Vasconcelos é
uma excelente parlamentar, um relógio Konstantin Chaykin. Ricardo Lume cresceu
nos debates na TV sobretudo nos assuntos laborais; Alexandre Fernandes é a
ponderação e a persistência; Énio Martins é o metódico. É hora de incentivar
verdadeiramente os camaradas mais novos em vez de insistir com estrela no
quadrado porque nem a martelo vai. Sem novas causas, as debilidades internas
vão se agravar até porque o filão dos sindicatos esmorece quando, em vez de
lutar pelo proletariado, querem estar a bem com as oportunidades e jeitos do
poder.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 28-10-2017
Página: 24
Data: 28-10-2017
Página: 24