oderna nos meios, medieval na forma. Na
próxima Terça-feira, arranca a campanha eleitoral das Autárquicas 2017, é
altura de analisar a pré-campanha, foi do mais baixo que se viu até hoje. Os
debates na TV provocam abstenção porque defraudam os eleitores. O formato do
programa tem gente a mais para tempo a menos. A mesma pergunta não passando por
todos os candidatos impede a comparação e a avaliação do mais bem preparado.
Além disso, o tempo de intervenção é curto para estruturar e transmitir uma
ideia fundamentada, muitas vezes sabotada por interferências dos adversários. É
um formato que permite a vitória de quem faz “ruído” com piadas, sobretudo com
um jogo de volumes de micro jeitosos. A contínua necessidade de achegas dos
candidatos é prova de que a mesma pergunta deve rodar por todos para que o
programa tenha fio condutor em vez de ser questionário anarca. O formato
“arrefece” o debate porque cada candidato espera muito para voltar a intervir.
Um programa entre os dois principais candidatos exige-se para haver realmente
um debate.
Jorge Manuel dos Santos (PCTP-MRPP): where is Wally? Roberto Vieira (Nova Mudança): é
duvidoso sair de um mandato da Coligação Mudança, há algumas semanas, para
avançar com uma candidatura Nova Mudança, atirando ideias que não implementou e
denegrindo no que participou. O melhor de dois mundos.
Artur Andrade/ Estratégia: não se vislumbra. Prós: a sua actividade profissional e
mandato na CMF capacita-o para interpretar legalmente as políticas e construir
um argumentário pedagógico interessante, naturalmente posicionado na sua
ideologia. Contra: ausência na pré-campanha, só agora dá sinais de vida
mas falha debates. O sigilo profissional em muitas ocasiões emudece-o no
cumprimento do mandato na CMF. Falta energia ao candidato para evitar a ideia
de estar a cumprir calendário.
Raquel Coelho/ Estratégia: marcar o ponto para o PTP na maior autarquia da região, lutando pelo
melhor resultado possível com escassos recursos. Aposta na construção de uma
nova imagem. Prós: tacitamente assume que o circo cansou e procura outra
postura e argumentos políticos abonatórios. Sem medo e persistente, tem fibra
para construir carisma e assim garantir que a denúncia não perderá lugar na
democracia regional. Contra: falta de equipa e mobilização.
Probabilidade de recaída por natureza e más influências.
Gil Canha/ Estratégia: comunicação estruturada da denúncia sobre situações na CMF. Aposta
tudo em ter voz enquanto vereador para prosseguir a acérrima contraposição. Prós:
pessoa inteligente, culta, vivida e pertinente. Mais recortado para um bom
parlamentar, quando não irritado, produz textos deliciosos com substância. Contra:
a impetuosidade e o contínuo alimentar da ideia de que não resolveu o
diferendo com Cafôfo provocam um “mute” no eleitorado que não gosta de política
persecutória. O eleitorado não entende, depois da luta contra o Jardinismo, o
favorecimento tácito a um sucedâneo pior e que não dá mostras de competência.
Não deve confiar em demasia nos seus dotes intelectuais para improvisar, pois
perde-se. A forma como terminou o PND é um registo que o enfraquece para
debater gestão. Uma autoavaliação a realizar: como encara o eleitorado a minha
capacidade para gerir pessoas sendo tão fogoso?
Rui Barreto/ Estratégia: começou por conceber as autárquicas com uma possibilidade de aliar-se
ao PSD, hesitou com a permanência da tendência das sondagens, moderou o
discurso e aparenta equidistância, começa a falar contra o PSD e este a
qualquer hora lhe fará uma visita. Prós: tem melhorado a sua performance
com o evoluir da pré-campanha e tem feito propostas. Não acompanha a miserável
diabolização que absorve o que de positivo se diz e que provoca o afastamento
do eleitorado da porca política. Pode conquistar votos do PSD que migram para
Cafôfo. Contra: a forma como ganhou o partido colocam-no no mesmo
impasse do PSD-M, está a gerir uma fracção da lotaria com uma esteira de
desconfianças, o que funciona como referência de atitude para novas situações.
Rubina Leal/ Estratégia: diabolizar Cafôfo para distrair o eleitorado sobre as fragilidades
programáticas da sua candidatura, as divisões no seio do PSD e da Renovação e
branquear a coresponsabilidade na situação financeira da CMF. Evitar a presença
de figuras polémicas da Renovação. Prós: boa gestora do submundo e dos
interesses, capacidade de “entalar” apoios a seu favor. Excelente a fazer
“ruído” e a transmitir ideias com convicção mesmo que frágeis ou erradas. Contra:
a diabolização não é estratégia de um partido liderante e menoriza a candidatura.
A proliferação de páginas de Facebook de campanha suja que a beneficiam nunca
lhe mereceram um reparo ético que a dignifique. Não renova a imagem geral do
PSD Madeira, um partido ardiloso e cheio de truques, muitas vezes baixos, e que
retiram a eficácia da mensagem porque os eleitores querem sinceridade. Enquanto
candidata oriunda de um governo que ostracizou a CMF, soa a falso o uso de
“leal” com o Funchal e seus munícipes. Dificuldade em lidar com ambientes não
preparados pela sua máquina. Tem uma campanha eleitoral desorganizada como
nunca se viu no PSD-M. As acusações de incompetência na CMF colide com o facto
de ter sido “general” de um governo com esse exacto epíteto e que destrata os
funcionários públicos para instalar a Renovação. O que fará na CMF? Salientar
jardins descuidados sendo do partido que arrancou as buganvílias das ribeiras é
um exemplo de demagogia numa torrente delas.
Paulo Cafôfo/ Estratégia: ignorar as críticas e seguir o seu caminho sem responder a todos
contra si, concentrado em passar a sua mensagem. Campeão do porta-a-porta,
principal razão da empatia e popularidade. Seu maior desafio na estratégia é
replicar os votos recebidos dos social-democratas nas últimas autárquicas. Prós:
a popularidade e o autodomínio na contrariedade. Promotor de elevação na
campanha eleitoral por não aderir à maledicência nem responder. Tem trunfos
capazes de limpar o PSD Madeira do mapa, de 3 um, o seu autodomínio não o fez
premir o “botão”, não tem consciência do que tem em mãos ou não vai usar.
Continua independente e capaz de receber votos de qualquer quadrante político. Contra:
não responder a algumas acusações, esquecendo-se de que o eleitorado não vive a
sua experiência e não tem a sua informação. A incidência e insistência de
acusações sobre si poderão estar a acumular uma imagem, na base do “quem cala
consente”. Tem dificuldade em interpretar sinais de social-democratas.
Enaltecendo o “Zen”, não esquecer que também há lugar para murros na mesa. Já
deveria ter sanado a politização do ambiente na CMF e explicado aos
funcionários a influência do PAEL no seu mandato. A autoconfiança, autodomínio
e preparação não devem degenerar em soberba. A proliferação de candidaturas e a
abstenção não o beneficiam.
Nota
final: a coordenação da política suja e a estratégia de poder (comungada por
alguns candidatos), supervisionada por uma empresa de comunicação, é um insulto
aos interesses dos eleitores.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 16-09-2017
Página: 29
Data: 16-09-2017
Página: 29
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