sábado, 31 de dezembro de 2016

Facto do ano: Ribeiras do Funchal

génese
O 20 de Fevereiro provou a robustez das paredes de basalto, com mais de 200 anos, dos encanamentos das 3 ribeiras do Funchal. O seu enchimento com detritos sólidos trazidos pelas enxurradas provocou o transbordo das ribeiras e as correntes distribuíram-nos livremente na baixa da capital. Paralelamente, o nível do mar subia. Ficamos elucidados sobre a capacidade dos movimentos das vertentes das ribeiras para alimentar a aluvião. As obras da Lei de Meios respeitaram uma parte do Estudo de Avaliação do Risco de Aluviões para o Funchal. Os açudes em betão a montante foram uma boa opção que, ainda assim, pode gerar discussões sobre o espaçamento que só recolhe pedras com um diâmetro superior a um metro. Serão capazes de segurar o volume de detritos sólidos que vimos no aterro que esteve na frente mar?


Agudização do problema
Após os grandes incêndios no Funchal, a cidade repete a conjuntura de calvície das suas montanhas na aluvião de 9 de Outubro de 1803. Expuseram a fragilidade da argumentação dos que defendem o revestimento das paredes de basalto das ribeiras e derrubam património histórico edificado em bom estado. A obra não é uma solução, é uma agressão, o seu efeito será residual perante a capacidade de débito da matéria sólida constitutiva das aluviões dos vales, agora ainda em pior estado, sobretudo em troços fundamentais como o Viveiros - Fundoa e a norte do Campo do Marítimo. Invocar a segurança para silenciar detractores é um registo para memória futura, ambos têm a mesma preocupação mas por caminhos diferentes. Neste momento, mais do que uma consciência é um negócio. O esforço financeiro deveria estar consignado à reflorestação para fixar terras por indicação do supremo estudo que o 20 de Fevereiro forneceu. Financiada pela UE em 85%, nos termos do POSEUR, a obra não teve um Estudo de Avaliação de Impacte Ambiental independente e atravessa o coração histórico da cidade em zona de protecção legalmente estabelecida, só foi possível porque o Governo decidiu em causa própria.

A gestão política
A decisão da obra com a respectiva justificação técnica, orçamentação e apoio comunitário, têm origem no mandato anterior e é parte de uma narrativa maior que se estende aos nossos dias. No passado, a solidariedade institucional não abria brecha política, a incompetência tinha seguro de vida. Na actualidade a culpa acaba no “mexilhão” e a cúpula hierárquica entrega o erro pronto-a-consumir sem remetente. Quando o PSD-M, em Conselho Regional, ensaiou um culpado para a má governação, ameaçando com o afastamento quem obstaculizava, julgo que a maioria dos madeirenses sorriu. As décadas de governação do PSD-M instituiu a ideia de que ninguém se candidata a perder o emprego, tudo segue os ditames da vaga do momento. O problema não será exactamente ao contrário? A submissão aos interesses empresariais e políticos.

Foto de Danilo Matos


A Opinião Pública
O único bloqueio com origem numa avaliação desinteressada teve origem na Opinião Pública, com fundamento técnico e por cidadania numa rede social. Onde estiveram os deputados a debater as ribeiras na ALR? Qual o esforço do Ambiente e Recursos Naturais perante este despesismo para alcançar maior orçamento para a reflorestação? A CMF fez tudo o que devia? Os pareceres dentro do governo foram idóneos?

Mediador suspeito
Com a popularidade em queda e a contagiar o governo, o secretário da tutela surgiu em postura de mediador, até então ausente e inocente mas que deu início às obras que transfiguram a cidade. Usou uma interpretação da conjuntura que o iliba, incutindo bom senso aos projectistas da obra para se conciliar com o aceso debate público. A obra veio do passado e passou a ser coisa do futuro sem presente. A contenção política, verbalizada na suspensão do projecto para o trecho da ribeira de Santa Luzia entre o Bazar do Povo e a Ponte D. Manuel, não foi suficiente e só serviu para criar mais desconfiança e dúvidas. Em postura de Pilatos, foi politicamente irresponsável, orçamentalmente abusivo, tecnicamente doloso e historicamente um sismo.

A agravante

Como é que um secretário regional que lidera partidariamente um Gabinete de Estudos, órgão supostamente aberto à sociedade civil, consegue omitir opiniões válidas e ter a Opinião Pública contra? Onde reside a força de bloqueio que destrói a imagem do governo? Envolver traz consensos mas, cada um sabe dos seus propósitos.

O futuro
Quando os tapumes forem retirados estará consumada a dimensão e o impacto da obra. As Buganvílias, outro ícone do Funchal, será passado. Com a aceleração das correntes, ao chegar à entrada e ao interior da Pontinha, vão provocar ondas de fundo que afectarão as manobras de acostagem e amarrações dos navios. Enquanto não se segurar a montante, as ribeiras serão, tão só, sarcófagos dourados. Entretanto, a actividade económica junto às ribeiras ou ocupando os leitos naturais prosseguirá. Estamos a compilar uma série de erros que vão incrementar despesas fixas de manutenção e desassoreamento com calendário estabelecido.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Promoção de Laranjas

poca de laranjas com o diabo na casca e também de sermão, levadas, quase dadas, sempre com cartão. Provêm das quintas, as da casa, essas coitadas, já não servem a tradição. De preferência com etiqueta e bom nome para dar elã, quase gourmet a caminho da Michelin. Se a variedade ainda assim engana, por culpa da apresentação, quando não verte sumo fica em xeque a cunha e a apelação. Ai, ai, ai, fotógrafo do engano zelando pela agremiação, paga-se um preço tão alto por este custo de produção.
O chefe de família apronta-se à saída de casa, é o momento da verificação, chaveiro, telemóvel, óculos para a falta de vista e acaba-se a reflexão, essa tantas vezes importunada por vozes em cornetão, cá vai mais uma que dispara: - NÃO TEMOS LARANJAS, COMPRA COM CARTÃO! Quis comprovar no “lençol” mas esse forrava a gaiola do rouxinol. O gato, ícone da casa, sempre prostrado em posição esquisita, lança uma pata sobre as orelhas e outra sobre a visão. Calem-se avisos estridentes da reacção, ele não quer saber da promoção, bem, só hesita se também tiver ração.
Chegado aos frescos, banca das laranjas, qual púlpito virado para um congresso, eram de facto imensas, de pôr os nervos em franjas. Sem cor uniforme isto vai ser uma maçada, escolhe-se conforme, bum bum avança a caçada. Da intensa cor uns vêem laranjas, outros abóboras, a alguns sabe a mel silvestre, para os mais indecisos, é tipo Kompal, é um manga-laranja, pende para o lado do maior arraial. Vale tudo, algumas colocam-se vistosas como que a dizer: - se me apalpas … levas-me. Ai a tentação. Retirou a embalagem que descoseu pelo picotado, coisa frágil para a quantidade que enche o saco. De frente para as laranjas sentiu-se jota, quando já vai cota, e traça o rumo nesta vivaça e pueril banca apanhada verde para o consumo. Que saudades de uma boa fruta caseira, apanhada no tempo certo para o presépio de escadaria, esse que nem dá canseira, mas onde o gato não larga a frutaria.
Esperto, o chefe de família começa por cima, distribui mas igual fica, ao apalpar arrepiou-se, estavam gélidas da câmara, a frigorífica. Terminada a transferência de calor apalpou com mais vigor e pressentiu, são das secas Senhor! Meteu no saco respeitando a boa ética, de não apalpar e deixar ficar. Com a experiência obtida foi a outra tonalidade, sempre com as primeiras em cumplicidade. Ao retirar aquela, especificamente, veio outra que amparou com o cotovelo, ai que dores quando chegam ao mesmo tempo. A posição não era ortodoxa mas ninguém viu, os tempos não andam católicos, psiu! Safou-se, e de novo com boa ética meteu a segunda no saco, somou experiência precisando do ábaco. Agora é escolher da mesma tonalidade, contudo as melhores são das mais profundas e decidiu-se por outra variedade. Ao retirar, deslizam sete ou oito para o outro lado onde também há biscoito. A terceira não era má mas agora começa o problema da fartura, decidir qual de tanta apanhadura? Enquanto a quinta mingua, por opção, o baldio aumenta com a selecção.
A pomologia diz-nos que há-as com umbigo enorme, atasca a máquina e não verte sumidade; sem pevides, consome-se mas, dali brota nicles; de casca grossa, viçosa mas com gomos palha; com nome pomposo, das que chamam a atenção mas, azedas que até apertam a tal visão.
Existe até a variedade “sanguínea”, laranja por fora mas vermelha por dentro. Há outra chamada canalha, da prateleira não tenho ideia, faz-se um bolo sem falha, sai lindo do forno para admiração da assembleia, aplica-se o sumo, afunda a sobremesa, que tristeza, só me faltava a diarreia.
E a cimboa? Mais do que um ornamento, uma delícia! Combina a forma da laranja com a cor do limão, sem malícia, dá um porta-enxerto de assombrar, apesar de saborosa metade é para descascar. Que escolha faz este supermercado, com tanto doutor e engenheiro sem escola, em gabinete a estudar? Pomologia rara que despreza como fruta “feia”, quando sumarenta, é de pasmar!
A odisseia prossegue, a mãozinha viril lá foi à fruta queque, que ideia imbecil! O mundo desaba-lhe, por sorte, na anarquia das roliças, só uma sobrou para as hortaliças. Estrelinhas esvoaçam e anjinhos tocam harpa, está feita a ornamentação, finalmente se percebe o que é Natal com um safanão. O obstáculo não cunhou a bicha que se estatelou, foi ao chão. A falta que fazem duas mãos ocupadas na fruta. O talude cede mas está tudo controlado, desde que se mantenha de quatro. Olhando para cima, pânico! O ananás com imponente coroa a perder alicerces. Pelo amor de Deus, aguenta-te. Deitado e espalmando, qual vibrador de laje tirando bolhas de ar, vai observando a laranja derrotada, a que caiu, a rolar pelo chão. Que triste fim da produção. Levará um coice espremida pelo carrinho em contramão ou alguém civilizado apanha com a mão? Não! Voltou o desassossego dos grisalhos com o laranjal, a velha ficou na horizontal. Que faz ela aqui se temos a inclusão em festival?! Raios partam a velha mas, tratem-na com carinho e atenção, não estraguem a promoção. Lembrem-se, a laranja caridosa sacia a pobreza viciando a condição.
Em tão pouco tempo a nova remessa esgota, que grande sucesso esta promoção, a altiva cúpula desbota, as laranjas são levadas, de uma a uma, pela mão. É chegada a hora da laranja-cenoura, uma bebida de eleição, quando faltam as primeiras acenam-se com as últimas, mantém a folia, parece um presentão.
Mais um ano passado, sempre a mesma conclusão, com tremendo enfado, o que nos vendem é ilusão. Fazemos figura de pato, com laranja, para manter a tradição.
Enfiado, o chefe de família assoma-se ao balcão: - nem que talhe, quero um batido de limão!



Diário de Notícias do Funchal
Data: 24-12-2016

Página: 27
Link: Promoção de Laranjas

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sábado, 26 de novembro de 2016

Populismo

ivemos tempos desafiantes onde o populismo (dizer o que a pobreza quer ouvir), o radicalismo (convulsão social) e o extremismo (fanatismo) marcam presença. Temos todos receio mas os votos surgem a dar força a estes movimentos. O populismo é consequência de uma crise de representação, quando os eleitos não estão ao serviço ou não produzem efeito nos eleitores e estes cedem à vontade de castigar, depositando confiança num ardiloso que se diz sério, impoluto e usa a veemência para sinalizar que vai actuar num doa a quem doer. O populista é carismático por via de uma linguagem simples e firme, acompanhada por uma propaganda que promove a inevitabilidade, a de que ele é a solução, a alternativa e a alternância. Em campanha, diz resolver todos os problemas num discurso que descredibiliza os adversários lançando suspeitas sobre todos. Ao atingir o climax do apoio popular, está fundamentado o não respeito pelas instituições democráticas e de justiça porque a razão da miséria é o bloqueio que elas promovem. Os mais ousados prosseguem e a democracia faz um intervalo para pôr tudo na ordem, para implementar as ideias de que todos comungam em corpo uno e supremo, infiscalizável. Estes parecem ter poder como extensão do líder mas só um manda. Assim nasce o populismo, manipulando onde há grandes diferenças sociais na razão de poucos muito ricos para uma grande extensão de pobreza que, não esteve representada nem teve atenção. O populista manipula com retórica a desejada represália oriunda do secreto sofrimento diário de muitos, que lavam as mãos porque o líder executa. Junta-se a fome com a vontade de comer.
Obama, em fim de mandato, não sabendo o rumo do seu país vem à Grécia, berço da civilização ocidental nas suas mais distintas bases como a democracia, a filosofia, literatura, etc, dar um sinal. O fim de mandato permite aligeirar a diplomacia, Obama veio à República Helénica, que tantos exemplos reúne, para tirar o tapete ao perigoso Schäuble, numa União Europeia indefinida que tem de ganhar juízo porque poderá ser chamada pelos valores ocidentais a um papel liderante no mundo, muito em particular, a Alemanha. Sem sequer aflorar, disse por atitudes que também não acredita na via tomada pelo Reino Unido. É natural que, nestes momentos, as nossas mais reprimidas dúvidas se intensifiquem porque o nosso íntimo pergunta se a Alemanha provocadora de duas Guerras Mundiais, nada solidária com os seus parceiros da Europa mas que corrigiu, por interesse, com a entrada de emigrantes, resolveu os seus reprimidos instintos de dominar sem respeito como no passado. Vai das pessoas que lideram, encontram alguém em melhor condição? Obama conhece mais do que ninguém as tendências no mundo e, por exclusão de partes, veio depositar na chanceler alemã uma responsabilidade num momento de indecisão, parecendo até resultado da informação recolhida pela sua administração no escândalo de espionagem a que Merkel esteve sujeita em 2013. Dias depois, Merkel anunciava a sua recandidatura. Obama, sempre sem verbalizar, demonstra apreensão com o seu próprio país que sendo tão visado pelo extremismo desde fora parece ceder por dentro. Em alta estará Guterres, num óptimo momento para catapultar o papel da ONU, inclusive para provocar a parcela política do Papa Francisco com provas dadas a juntar religiões e credos muitas vezes causa de conflitos.
Intervalo Publicitário
Jovem, se tens entre 18 e 100 anos com todas as condições de elegibilidade legais e morais, concorre! Não te deixes anestesiar para depois cramar. Se mobilizas e te vêm buscar para fazer número mas, os não residentes é que ficam com tacho, porque não testar as tuas capacidades de liderança num grupo de cidadãos eleitores? As autárquicas, mais do que qualquer outra eleição, significa “prata da casa”. Aproveita as singularidades das Eleições Autárquicas e abraça uma aliciante carreira no poder local. Se uma nova Lei Eleitoral Autárquica for avante, os independentes serão a terceira força política em Portugal.
Por cá, não estamos imunes ao populismo, temos todos os ingredientes presentes inclusive os impulsos populares, só falta o político carismático porque circo, rebuçados e afecto são instantâneos. Se as autárquicas decidem o palco e o contexto das próximas regionais seria bom que os partidos da oposição estivessem aptos a governar trocando a guerrilha por propostas devidamente publicitadas e evitando se acomodar aos serviços mínimos. Deverão ser a última barricada ao populismo. Onde anda o povo saturado e irritado? À mercê da abstenção ou do populismo? Onde estão as pessoas de mérito, por áreas, a debitar ideias, comparação e a se insinuarem ao eleitorado? Onde está a agenda própria? Vamos ter um grupo reduzido a clamar por alternância? Não há tempos mortos em democracia, é preciso mais ambição para que no último minuto, numa irremediável conclusão lógica, o eleitor não se entregue aos de sempre por falta de alternativa credível.
Sendo de salutar a emancipação da Opinião Pública na Madeira, com a situação das ribeiras, não será um sintoma de crise de representação o facto de nenhum partido ter levado de forma séria o assunto à ALR? Uma rede social deu palco? Isto não é exemplo de brecha para o populismo?
Nem nos piores momentos a oposição na Madeira quebra o continuum do PSD em cenário de Legislativas Regionais. Enquanto o PSD declina a oposição não absorve, enquanto a renovação exaspera a oposição não sossega, quando PSD prefere elites a oposição não consuma a antítese. De momento, a oposição está embevecida a sublinhar os desaires do quotidiano, assenhorados do impulso enganador das legislativas nacionais e do contexto das últimas autárquicas. Querem ver que o PSD vai olear e produzir melhores dias e a oposição nunca sai da cepa torta? Nem esta vergonha a faz correr mais e melhor? O mérito é o único caminho que serena e une um partido evitando o populismo.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 26-11-2016

Página: 31
Link: Populismo

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sábado, 29 de outubro de 2016

ZZzzZZzz ron-ron

zZzêm surgido na região dúvidas sobre a aposta nos cruzeiros pela hipotética baixa nas despesas dos passageiros, com a ideia fixa de que a contenção de despesas não deve atingir esta indústria quando se assiste à sua democratização.

Vamos ponderar com números e factos. Se um investimento alheio disponibiliza o cruzeirista no Porto do Funchal a custo zero, quando existe uma nula promoção da região neste sector turístico, então estaremos a falar de um negócio da China. Que tipo de China queremos? Com despesa cá ou com a deslocalização de navios para a Ásia onde o mercado de cruzeiros sextuplicou em 10 anos? Quando a descida das escalas no Funchal é um facto, a demanda por cruzeiros cresceu 68% nos últimos 10 anos. As duas zonas geográficas mais populares são as Caraíbas com 33,7% do total mundial e o Mediterrâneo, que beneficia a nossa localização, com 18,7%. Entre 2008 e 2014, os cruzeiros ultrapassaram em 22% as viagens tradicionais nos Estados Unidos, que estão sempre um pouco à frente nas tendências. A Europa, principal fabricante de navios, tem um crescimento a caminho de anémico, no que diz respeito a turismo nesta área, devido à sua zona mais forte (Mediterrâneo) estar a somar um grande número de portos instáveis. Daí a deslocalização de navios para outras zonas em consideração ao cliente americano que preenche boa parte dos navios na Europa.


O que se sabe sobre o perfil consumista dos cruzeiristas nas escalas no Funchal? Tendo por fontes as companhias de cruzeiro e a CLIA, cada um gasta em média 50€ nas escalas no nosso porto quando a média mundial é de 124€. Há muito trabalho por fazer aqui, a Madeira dorme. 97% dessa despesa é em terra, denunciando que a larga maioria desembarca. Desse montante, 70% é aplicado em bebidas e refeições, o restante em tours organizados ou apeados. Cada navio médio deixa por escala uma média de 85.000€ na economia local. Neste valor não constam as taxas da APRAM (42 milhões/ano) nem estão contabilizados os serviços dos agentes de navegação. As companhias omitem o volume de negócios com os seus tours, dos quais cedem uma comissão ao prestador de serviço local. Quanto mais exclusivo for o navio (mais pequeno) mais despesa tende a realizar o passageiro mas, os navios maiores geram valores globalmente superiores. Todo mercado interessa.

O cruzeirista que visita a Madeira é maioritariamente alemão ou inglês, com idade média de 55 anos, metade deles com curso superior, só depois surgem os aposentados. 80% destes, auferem no agregado familiar mais de 3200€ mensais, 50% mais do que 6000€, o que indicia que o cruzeirista não é um "teso” mas gere racionalmente o seu dinheiro, cabe ao destino ser apelativo ao consumo. Necessitamos de mais informação através de um relacionamento estreito com os departamentos de “Shore Excursions” e disponibilizar mais informações nos navios. A Madeira dorme. 87% dos cruzeiristas que vêm à Madeira estão fidelizados a este tipo de turismo dos quais, cerca de 69%, indicam visitar a Madeira pela primeira vez. Num estudo efectuado pela CLIA, os cruzeiristas estabelecem como razões da sua opção por cruzeiros o desejo de explorar vários destinos por instintos de aventura, a necessidade de descanso ou de quebra nas rotinas e, ainda, a adesão ao conceito de acessibilidade em conforto (um hotel itinerante). Transversalmente aos impulsos que levam à opção pelos cruzeiros, os seus passageiros procuram desfrutar de natureza e paisagem que lhes proporcionem um relaxamento. Ainda no perfil do cruzeirista, sabe-se que viajam maioritariamente casais e que 62% revisitaram um destino de que gostaram num cruzeiro de forma tradicional, hotel e voo para o destino. A Madeira dorme. Atenção ao betão! Nada é por acaso. Os reposicionamentos, neste momento, estão a privilegiar a natureza, é um sinal. Os cruzeiros são, em viagem, um prospecto para outras viagens tradicionais.

A publicidade gratuita gerada pelos cruzeiristas, narrando experiências ou influenciando directamente escolhas, abrange um universo de 7 milhões/ano. A fidelização e a actividade comercial das companhias, sobre a nossa área geográfica de conveniência, incidem a promoção sobre 210 milhões de potenciais clientes por temporada.


Umas últimas palavras para os tripulantes. Saiba que a idade média dos que aqui desembarcam, embarcam ou gozam folga é de 35 anos, são asiáticos (sobretudo Filipinas, Índia e Indonésia), têm curso superior (82%) e a vida a bordo garante-lhes um rendimento que não teriam nos países de origem na sua profissão. A despesa média destes sobe para 65€ na escala no Funchal porque temos boa fama para compras. 71% do valor destina-se a bebidas e comidas, o restante em shopping (supermercado/ gadgets). Note-se que muitas vezes os tripulantes realizam favores que provocam despesas por outros em serviço ou familiares. Estas tripulações deixam, em média, 36.000€ por escala. Notável! A Madeira dorme, tudo despenca ao acaso.

A esmagadora maioria dos cruzeiristas e tripulantes ficam agradados com o nosso destino, o que confirma que a descida das escalas dos navios de cruzeiro no Funchal prende-se com a política comercial (rentabilidade das companhias) e segurança da zona (influência do Mediterrâneo), não com o nosso destino mas, atenção que há queixas do nosso porto. Não fazer promoção séria, individualmente e em conjunto com os portos dos itinerários da nossa zona, será mortal. Precisamos de colocar a APRAM em concorrência com a APM e que no próximo mandato seja contemplada a competência com alergia a esquemas, caso contrário, é nesse mandato que vamos confirmar os erros do passado a rebentar, talvez, em pessoas que não têm culpa. A APRAM só pode dar lucro, haver periodicamente injecções é uma ofensa ao erário público.

Que receita provoca um hotel cravado no porto ou um all-inclusive na praça? Os navios fazem parte da nossa paisagem mas, a Madeira ZZzzZZzz ron-ron.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 29-10-2016

Página: 28
Link: ZZzzZZzz ron-ron

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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Barbeiragem


irar o bico ao prego: A XXI Conferência de Presidentes das Regiões Ultraperiféricas Europeias (RUPs) realizou-se no Funchal, contendo uma sessão temática sobre “As Regiões Ultraperiféricas e o transporte marítimo e aéreo: desafios e oportunidades”. O Governo Regional indicou a necessidade de "rever o enquadramento dos auxílios de Estado ao transporte marítimo, a fim de permitir o apoio público a ligações entre as regiões e os países terceiros" que, deveria ser concretizado "de uma forma permanente para assegurar a sustentabilidade económica destes territórios a longo prazo”. O Presidente da Conferência dos Presidentes das RUPs realçou uma "persistente inadaptação dos instrumentos da política comum de transportes para reduzir o défice de acessibilidades" nestes territórios.

A Madeira continua a furtar-se à discussão pois, qualquer ideia que promova no seio da UE irá esbarrar nos contratos blindados, produzidos durante décadas e que tolhem os nossos portos, a nossa economia e afugentam soluções de transportes como ARMAS. Deixemos as hipocrisias. O que a UE decidir implicará indemnizar por valores incomportáveis para os cofres da região. Por outras palavras, estiveram a se entreter com mais um inimigo externo sem o trabalho de casa feito. Na sala, não havia uma pessoa credenciada para esta discussão por parte do GR numa reunião entre governos mas, o oligopólio fez-se representar por dois elementos dos exploradores dos nossos portos. Este pormenor diz tudo.

Os nossos portos tornaram-se caros e obsoletos por processos que visam alimentar uma longa cadeia de serviços que deveriam ser reestruturados. Falhamos pelo menos dois “up-grades” na gestão portuária nas últimas décadas. Estamos a falhar novamente com a abertura do novo Canal do Panamá que tem repercussões nos portos regionais, se estes desejarem. Era previsível que estes contratos trouxessem problemas. O desejado ferry Madeira–Continente é prova disso. Ao contrário da orientação na sessão temática, tomando o ferry por exemplo, o problema é endógeno. O GR não tem capacidade para associar a exploração da linha Madeira-Continente a outra actividade lucrativa nos portos para cumprir a função social e económica de um ferry. A Madeira não consegue concretizar sinergias para replicar o que o Armas concretizou beneficiando a Madeira com o “volume” das Canárias. A Madeira não consegue aplicar dividendos dos portos para viabilizar o ferry, porque não recebe, limita-se à isenção das taxas portuárias e remete a solução para Lisboa.


"O eleitor só conhece
a imunidade
à qualidade de vida"

De carteira aberta: Tratei de uma reserva na tarifa económica restrita que chegou ao somatório de 889,31€ (Fun-Lis-Fun). Entre um alarve e a barbeiragem, você pode ficar liso e em terra a meio da viagem. Vi tarifas elegíveis para o Subsídio Social de Mobilidade (SSM) mais caras do que as Executivas, não elegíveis. Significa que o limite dos 400€ é suficiente e o das tarifas provoca aberrações. Vi a TAP a se aproveitar da remarcação de viagens com o horizonte dos 400€ em mente (nova factura, novo cartão de embarque). A culpa é de Lisboa?

Estive durante 10 horas a tentar ser atendido, por telefone, pelas Reservas da TAP. Tive sucesso às 3:30 da madrugada, na tentativa de ajudar portugueses enrascados no estrangeiro porque não há saldo que aguente as esperas naquele 707 das Reservas a cantar de “braços abertos”. A TAP quanto pior atende mais factura. Encarei as informações da primeira de duas chamadas como fidedignas para descobrir na segunda que a primeira não tinha informado bem, voltei à estaca zero e presumi que eram mesmo as “reservas”. A TAP provoca despesas aos clientes para cobrar com cara de pau à luz do SSM. A culpa é repartida.

Chegados ao país, 2 dias depois do previsto, os passageiros furibundos deparam-se com as senhoras que dão a cara pela TAP que, não responderam a questões quentes mas, despacharam com um “foram vocês que quiseram assim”. Traduzido, significa “nós simplesmente fazemos dinheiro com a estupidez do Vosso governo”. As pessoas vivem os erros do SSM e hoje encerra mais um mês de atraso na revisão do mesmo. Os problemas são exógenos ou endógenos?




Assembleia Sazonal: A ALR está absorvida de novo pelos timings da Presidência do Governo Regional. A casa da democracia resume-se a um orçamento para jeitinhos políticos, “jobs for the boys” sem adição de competências e produz um debate paupérrimo. O último plenário da ALR ocorreu a 26 de Julho e o próximo será a 6 de Outubro, 72 dias de férias. Para Outubro estão programados 9 plenários, com o serviço a coincidir em 3 dias da semana, às Terças, Quartas e Quintas-feiras. As Sextas e Segundas-feiras são reservadas aos fins-de-semana prolongados. Na agenda de Novembro a dose repete-se. Nas épocas festivas, a ALR também é prendada. Dirão que há outros afazeres políticos. Quantos representantes do povo viram os eleitores junto de si na altura dos incêndios?

É sintomático que um autarca, para passar bombeiros a sapadores, tenha que deixar um alerta para se despacharem. A ALR está focada nos interesses partidários. O crescimento dos debates na sociedade civil passam ao lado dos deputados, não as conferências onde desfilam interesses, muito menos nos partidariamente obrigatórios, falo dos que determinam as orientações de votos futuros com a cruz mais fiscalizadora e competente que se conhece. A sociedade civil está saturada e há fortes indícios de marginalização dos deputados. Fica um último reparo, se a oposição na ALR sonha com a alternância a sua obrigação é a de ser mais actuante, persuasiva, liderante e denunciante com o assunto bem estudado para defender o povo. O marasmo parece conveniente a todas as partes.

O eleitor só conhece a imunidade à qualidade de vida e o argumento dos estúpidos invocando a inveja. O fosso vai muito além de pobres e ricos. Alguns fazem muito pouco para aquilo que recebem ou gastam ao erário público.


Diário de Notícias do Funchal
Data: 30-09-2016

Página: 14
Link: Barbeiragem

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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Contributos para um melhor subsídio

pós um ano de novo modelo de apoio às viagens áreas de residentes e estudantes, o DIÁRIO solicitou ideias para que a mobilidade não encalhe

Carlos Vares 
Passageiro

Não faz sentido os bilhetes ‘one-way’ não serem considerados de forma independente, ou seja, indexar ao custo de 86,00 euros, tal como um bilhete de ida e volta. Neste momento obriga-se o passageiro a “cruzar” bilhetes, em sentidos opostos, pelo prazo de 1 ano, uma complicação desnecessária que se junta a outras.

Bilhetes com voos de ligação: o conceito de bilhete corrido não está a ser cumprido. Um passageiro que comprar um bilhete Funchal - Lisboa - Ponta Delgada é apenas subsidiado na “perna” Funchal - Lisboa, porque é-lhe exigido um recibo segmentado do percurso e fazendo com que os CTT considerem os voos (bilhetes) como separados, quando não o são. Se o subsídio da mobilidade serve para facilitar as ligações dentro do país, todo o território nacional, todos os voos dentro desse espaço devem ser considerados.

É questionável a exclusão de certo tipo de tarifas do subsídio da mobilidade porque inibe muitas vezes o direito dos passageiros ao subsídio. O subsídio assenta num prisma de não pagar determinadas tarifas ignorando que existem voos e datas em que apenas existem lugares nas tarifas excluídas. Não devia haver esta exclusão, até porque algumas vezes a tarifa de serviço superior nem sempre é mais cara.

O governo, tão exigente com o beneficiário final, na forma de pagamento, a estrutura da factura, etc, esquece que existe o aproveitamento dos agentes de viagem na cobrança da taxa de emissão do bilhete que é elegível para o valor subsidiado, representando custos acrescidos para o erário público. Esse valor deve sofrer uma limitação, um montante máximo.

Os residentes no Porto Santo deveriam receber uma atenção especial porque, para beneficiar do subsídio da mobilidade, têm que suportar o custo da viagem Porto Santo - Funchal - Porto Santo para poder chegar ao restante território nacional.

Não faz sentido complicar a vida do estudante exigindo em português a declaração da sua escola para aceder ao subsídio. Se tiver que realizar uma tradução reconhecida, o custo anula o subsídio. Deveriam, pelo menos, considerar o inglês ou todas as línguas oficiais da UE. Ainda assim, a melhor solução seria um formulário tipo da secretaria, disponível no seu site para download,  onde as escolas preencheriam com os seus dados.

Não se deve desvirtuar o objectivo do subsídio, a possibilidade de todo madeirense chegar a qualquer espaço nacional por via aérea, colocando algumas opções de pagamento como “puníveis” com 60 dias de espera. É olhar para o valor do ordenado mínimo, o valor que as passagens algumas vezes atingem e pensar como vai essa família viver durante esses 60 dias.

Jorge Sargo 
Agente de viagens

Apresentação da cópia de bilhetes quando for receber o subsídio.

Rever a situação de voos no sentido de melhorar o espaço tarifário, nas épocas altas.

Travar o aumento tarifário das companhias aéreas.

Haver por parte das companhias aéreas, uma abertura a nível de classes havendo apenas económicas para os residentes.

Uniformizar as tarifas corridas com ligação para Porto e Faro quando os fare basis não considere o que os CTT têm para pagar o subsídio.

Uma vez que o tecto máximo é 400 euros porque não alargar as classes tarifárias (M, B) para incluir no pagamento de subsídio, uma vez que muitas vezes existe lugares nestas classes.    

Paulo Prada 
Administrador do Grupo Pestana

Ponto prévio: Eu sou apologista do modelo “lump sum”, em vigor nos Açores e na Madeira e não do modelo “ad valorem”, das Canárias, onde o viajante residente paga 50% do preço do bilhete, seja ele qual for. No meu entendimento, o modelo “lump sum” é o aconselhável em termos sociais, quando a proporção de não residentes sobre a totalidade de passageiros na linha, explorada em duopólio, é baixa e a sua propensão para pagar preços mais elevados é diminuta, o que se verifica na Madeira.
Pelo que, o que eu sugiro, são alguns ajustamentos ao modelo vigente:

Eliminação das restrições de comparticipação para determinadas tarifas. Se já existe limite de € 400, para quê complicar? Além de que tem efeitos perniciosos. Outro dia viajei pagando mais caro mas obtendo reembolso, mais elevado, na easyJet, do que obteria na TAP se comprasse bilhete e viajasse na TAP, no mesmo dia e em horário semelhante (não o fiz, porque apenas tinham em Classe Plus, logo, não permitia o reembolso).

Eliminação de discrepâncias entre companhias aéreas. Por exemplo, inclusão do preço de bagagem de porão na easyJet no montante que serve de base ao cálculo do reembolso. Note-se que no preço do bilhete da TAP, que concorre para cômputo do reembolso, inclui uma bagagem de porão.

Provando-se a qualidade de residente ou de residente-estudante, através de um simples programa informático (elaborado pela RAM e com acesso pelas companhias aéreas), onde estariam carregados os residentes e os residentes-estudantes, dever-se-ia poder comprar o bilhete às companhias aéreas pagando apenas, respectivamente, € 86 ou € 65, mais o valor acima dos € 400. O Estado (ou a RAM) faria contas no final do ano com as companhias aéreas.

Não sendo possível 3, então:

Encurtamento do prazo para reembolso após pagamento, seja qual for a forma, do preço dos bilhetes. Regra geral deveria ser, imediatamente, após pagamento, haver direito a receber o reembolso.

Agilização, simplificação e uniformização do processamento de reembolsos. Demasiada burocracia para comprovar sucessivas idênticas elegibilidades. Exigências diversas em diferentes balcões dos CTT para situações idênticas

André Barreto 
Gestor

Tendo-me sido solicitada opinião, deixo o que espero possam ser considerados contributos exequíveis para a melhoria do sistema actual de subsídio à mobilidade, evitando resumir a questão a um tema: - o fim dos subsídios, tout court. De todos!

Agilização de procedimentos - nos dias de hoje é difícil compreender a impossibilidade de tratarmos de um assunto, de um qualquer assunto, também pela internet. Parece-me perfeitamente possível a criação de um formulário específico, com identificação de toda a documentação necessária a enviar, sem a obrigação de ida aos CTT;

O pagamento - acabaria, pura e simplesmente, com a questão relativa ao pagamento por cartão de crédito. O Governo não tem absolutamente nada a ver com os acordos que cada pessoa tem com o seu banco;

Valor máximo de referência - se se permite às companhias aéreas que trabalhem livremente as tarifas tendo por base, teoricamente, a lei da oferta e da procura, não me parece que deva existir um valor máximo para atribuição do subsídio;

Paridade - para que este sistema funcione convenientemente, da mesma forma que ao passageiro se exige a apresentação de determinada documentação, também às companhias aéreas tem de obrigar-se a que apresentem as suas tarifas de forma igual e que os documentos que estas emitem se compatibilizem com as mencionadas exigências;

Caso de doença - em situações relacionadas com saúde, devidamente comprovadas, pelo menos naquelas em que o sistema regional não pode responder adequadamente, o doente devia poder viajar sem quaisquer custos.


João Welsh 
CEO da JW Holding

Antes de mais quero deixar claro que sou contra modelos que assentam em subsídios, pelos efeitos perniciosos e distorções estruturais que geram, no longo prazo, na competitividade das economias e, por consequência, na geração de riqueza sustentável (ordenados líquidos) das pessoas. Dito isto, estando consagrado o Princípio Continuidade Territorial (PCT), aceito com pragmatismo opinar sobre a qualidade do modelo em vigor que, na minha opinião, deveria se centrar exclusivamente no que realmente é importante: Os doentes e os estudantes.

Para mim o ponto mais negativo deste modelo, ao contrário do modelo dos Açores, é não considerar elegíveis as tarifas sem restrições. Ou seja, quem viaja por motivos de força maior em cima da hora e com necessidades frequentes de alterações (situações criticas), fica desprotegido pelo PCT. Já se percebeu que é fácil esgotarem-se as tarifas elegíveis, particularmente nas épocas altas deixando estudantes e doentes com dificuldades enormes. É, pois, necessário dar cobertura a todas as tarifas sem restrições (sem custos de alteração) incluindo a executiva, por vezes única alternativa disponível num ou em ambos os percursos. Obviamente que para estas tarifas sem restrições e executiva teria de ser considerado um valor máximo de subsídio. Ou seja, a questão central que tem de ser resolvida é acabar com a limitação das tarifas elegíveis que põe em causa os propósitos do PCT.

Outro ponto que necessita de ser revisto é o prazo dos 60 dias para reembolso de viagens pagas com cartão de crédito. Tem de ser abolido. Percebo a responsabilidade na defesa dos dinheiros públicos com a introdução de mecanismos que, por um lado, evitem abusos associados ao ganho de milhas obtidas com as tarifas mais altas e, por outro lado, que influenciem o comportamento da procura pressionando os preços. O problema é que o prazo dos 60 dias colide com o objectivo central do PCT, porque desprotege as viagens mais contingentes, onde o princípio mais se justifica.

Ou seja, quer as reservas feitas em cima da hora, por necessidade imperiosa, quer as feitas pelos madeirenses com menor poder de compra e, como tal, com maiores dificuldades ou impossibilidade no adiantamento, ficarão a descoberto do PCT. Há, pois, que saber se o subsídio de mobilidade visa proteger em primeiro lugar quem viaja em lazer com tempo, ou os estudantes, os doentes e quem viaja por razões profissionais e que não tem possibilidade de programar com antecedência. Qual o objectivo central PCT? Garantir as situações normais ou acautelar as situações críticas?

Se o residente usufruir de 30 ou de 60 dias de crédito não está a lesar os dinheiros públicos e não fica mais rico por usufruir de um crédito de umas parcas centenas de euros e de mais umas milhas, mas fica muito limitado nos meios que dispõe de pagamento. Os processos de controlo têm de se ajustar aos objectivos do PCT e não ao contrário correndo-se o risco destes ficarem condicionados por aqueles.

Quanto à Hipótese do subsídio directo à companhia aérea lembro este modelo é condicionador de uma PLENA liberalização das rotas aéreas com o continente. Seria um erro voltarmos atrás.

Em suma defendo uma solução equilibrada que poderia passar por: (I) eliminar as restrições ao cartão de crédito e os 60 dias de reembolso; (II) Incluir classes e tarifas sem restrições; (III) Manter o tecto tarifário do novo modelo para residentes e estudantes; (IV) combinado com um subsídio fixo de ‘x’ euros para as tarifas superiores a ‘y’ euros, independentemente do tipo de tarifa e classe. Um sistema misto, conjugando o actual com o anterior modelo.

Francisco Gouveia 
Estudante da Faculdade de Medicina de Lisboa

1 - 65€? O preço da viagem para um estudante no continente? Ahahah… o riso aqui é irónico! É que tenho amigos e colegas que não vêm à Madeira porque as famílias não têm possibilidades de adiantar 300, 400 ou 500€ para que os filhos voltem a casa, por exemplo, no Natal ou na Páscoa! De que serve um subsídio quando grande parte dos estudantes continua com dificuldades para pagar a viagem? Porque é que o estudante não paga directamente os 65€, sendo o restante valor suportado de imediato pelo governo? Não seria mais fácil? Além disso, seria também uma forma de controlar os preços exagerados das companhias aéreas! Até as low cost aderiram aos preços que escaldam!

2 - Continuidade territorial! Já ouviram falar, senhor Presidente, senhores deputados, senhores que andam o dia todo de fato e que fazem as leis? Parece que não! Leiam a Constituição da República… Os estudantes insulares não devem ser discriminados relativamente aos do continente! Pagar os 65€, mais os 300, os 400 ou 500€ para ir até Lisboa? Poupem-me… Este subsídio tem que ser repensado! Está feito para aqueles que, felizmente, têm possibilidades! E os que não têm? Ficam a ver aviões?

3 - Adoro passar uma bela manhã, ou tarde (quando não é o dia inteiro) nos CTT, a fim de receber o dinheiro do subsídio… Funcionários que parecem trabalhar a carvão… Depois, quando chega a minha vez, ou o número de factura está errado, ou é porque está uma letra onde deveria estar o número, ou é porque levei uma cópia do comprovativo da matrícula em vez do original, ou é porque me chamo Francisco… Tanta burocracia… Mas também… Isto é Portugal, não é assim?

4 - Disseram-me que esta coisa de receber o dinheiro do subsídio vai complicar ainda mais… a papelada toda será deixada no balcão dos CTT, juntamente com o IBAN e, automaticamente, é reposto o dinheiro na conta! Até seria uma boa ideia, mas como estamos em Portugal, volta a burocracia… E se há uma vírgula a mais num dos papéis? Toca voltar ao correios, perceber o que está mal, voltar à agência de viagens para que corrijam o erro, entregar os papéis, novamente, nos CTT e rezar para que esteja tudo correcto, a fim de receber o dinheiro que tanto jeito faz...

5 - Isto de reservar passagem com antecedência, parece já não resultar assim tão bem… Até parece que andamos na pedincha! Já reservei a minha do Natal, em Junho, e o valor já ultrapassa os 400€! Pronto, para os senhores que decidiram os termos deste subsídio, são 65€ mais 335€… E depois ainda aparecem uns hoteleiros a defenderem que os estudantes Madeirenses já sabem o que é o fogo de artifício e por isso, devem deixar os lugares nos aviões vagos para os turistas. Inacreditável e ridículo!



Diário de Notícias do Funchal
Data: 01-09-2016

Página: 18-19
Link: Contributos para um melhor subsídio


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terça-feira, 30 de agosto de 2016

Silly style

spumadeira: momento de aflição que deve mostrar uma vigorosa economia regional, de inclusão da classe empresarial tratada “poor” igual, depois dos inocentes estudos e concursos. É o momento do “passe-vite” e do “salazar”, o que fica depois da vigilância das oportunidades para os lobbies da praxe. Se isto mentira fosse, o comum empresário não detectaria o esforço do ajuntamento para parecer democrático com uma composição de órgãos sociais preenchidos por elementos afectos a empresas satélites dos mesmos lobbies, culminando com a alteração dos estatutos para uma liderança ad aeternum. A realidade vivida pela espumadeira é o confluir dos resultados promovidos pelo sistema com a ingrata ausência dos que usufruem e controlam mas não querem dar bandeira. Assim, a espumadeira torna-se na mostra dos biscates da sobrevivência, dos que precisam mesmo de ser vistos. O ajuntamento necessita de alternância democrática para ser credível.

Startup show: As startups estão na moda e vão tomar conta do Tecnopolo, um São João valley para nos fazer esquecer o mesmo problema que a espumadeira tem e que sufoca toda a actividade económica. A Madeira mantém-se na última divisão de 4 na avaliação do European Innovation Scoreboard de 2016. Somos classificados de modestos investidores e pecamos sobretudo em produtos de média e alta tecnologia, negócios de pesquisa e desenvolvimento, nas patentes, justo onde queremos dar um ar de modernidade com muitas apresentações. Os números dizem que não conseguimos comercializar inovação mas, alguém pode? Enquanto o nosso mercado não fluir naturalmente, livre e com financiamento, será um rally sem ferry, o status quo mantém-se. Acresce as minas e armadilhas daqueles que montam a burocracia em causa própria na justa medida que os colocam como necessários a um investimento com parecer pago. Tudo isto sem o ambiente das falências resolvido.

Biomassa: estudo na gaveta há 10 anos, finalizado 4 anos antes das sucessivas catástrofes que assolaram a Madeira, duas por grandes incêndios. Vivemos uma situação que deve ser encarada com pragmatismo para atingir, com celeridade, a redução da carga combustível através da limpeza da cintura de terrenos, matas e floresta junto aos aglomerados populacionais, que foram pensados para crescer rápido e com poder calorífico. Vivemos o resultado de uma era onde a madeira alimentava o vapor das pequenas indústrias, os meios de transporte marítimos e se impunha nas cozeduras. Se temos que planear a floresta, a solução poderá não estar longe do passado, temos que voltar a aproveitar os recursos regionais. Um mercado de biomassa traria emprego e rendimento com a limpeza, contribuindo para minimizar os riscos de incêndios, compensando alguma despesa aos proprietários ou dando lucro às empresas. O que agora é um problema, limpar, poderia ser uma actividade económica controlada para evitar abusos. O resultado dessa limpeza para a biomassa daria origem a subprodutos para diversas áreas de actividade, em larga medida, através da produção de energia tornando a Madeira mais autónoma com balanço de carbono neutro. A biomassa é renovável e substitui o petróleo importado. As tecnologias da biomassa estão muito avançadas e respeitam padrões exigentes de controlo de poluição. Num incêndio, a vegetação arde sem controlo e com níveis de poluição incomparavelmente superiores.

A Madeira exporta, por ano, cerca de 60 mil toneladas de madeira para pasta de papel. O consumo de lenha anda próximo das 20 mil toneladas. Só os restos produzidos pelo abate de árvores para madeira dariam para alimentar um mercado de biomassa. E, se tivermos uma área florestal para energia planificada, com ciclos de desbaste e limpeza programados, os terrenos incultos estariam limpos, protegidos de incêndios e a produzir rendimento.

A Madeira tem estudo, matéria-prima, tecnologia e potencial para arrancar já, basta visão política para reduzir os fogos florestais. Existem empresas do sector interessadas, com potencial para criar rendimento e postos de trabalho.



Sismo Marques: Cismou e provocou um forte abalo histórico, com epicentro no Governo Regional. Tem vindo a derrubar pontes centenárias que passaram no teste do 20 de Fevereiro sem qualquer estudo de gaveta e com o habitual silêncio da DRC. O basalto secular, com provas dadas, cede lugar ao betão armado que vai sofrer erosão, expor o ferro e acelerar a degradação. Já poderão agendar a manutenção e planificar o rendimento garantido para alguns.

As mal-amadas obras quase provocam um genocídio com os incêndios pois repetiram, noutra dimensão, o estrangulamento da mobilidade no Funchal. Se as tochas tivessem viajado em pleno dia para a capital, teria sido o caos para os cidadãos e bombeiros impossibilitados de circular. Muitos dos que agora lêem o artigo levaram 5 horas para poder chegar a casa e cuidar do que é seu, alguns abandonaram o carro e foram a pé. Existem e são respeitados os planos de segurança nas obras do governo?

Arder com “style”: Centenas de fotos de caridade, compaixão e actuação receberam molduras do governo para circular nas redes sociais em alturas de urgência, emergência e caos. Por que tenho a impressão de que a primeira ideia em mente não era a gestão da crise mas do momento político? A glorificação gratuita que se aproveita da emoção é um momento promíscuo que tenta tornar o pragmatismo e a crítica justa numa ofensa. A antecipação do elogio silencia serviços loucos para denunciar a falta de condições para poderem ser profissionais. Assim se evita a exposição pública do que correu mal enquanto alguns embevecem sem notar os abusos. Estão a alimentar a mediocridade e o cinismo que nos vão matar. A natureza vai acentuar os desafios, precisamos da massa crítica a funcionar.

Diário de Notícias do Funchal
Data: 30-08-2016

Página: 11
Link: Silly style

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