stá a terminar o prazo da petição sobre a volumetria do novo Hotel
Savoy. Não é contra o hotel, é contra o tamanho, em protecção do emprego que existe
e em respeito pelos outros hoteleiros que veneram a paisagem.
Segundo a acta camarária 6/2009, o projecto foi aprovado por maioria
com uma notada falta do vereador-funcionário do promotor, acompanhado pela ausência
momentânea mas pontualíssima do rato do sistema na votação. Recebeu votos
contra do PS e da CDU. Tudo perversamente legal, fundamentado num Plano de
Urbanização do Infante que caducou e se esqueceu das regras superiores do Plano
Director Municipal e do Plano de Ordenamento Turístico. Na altura, parece que
não conheciam monumentos ou espaços classificados. Assim, o Savoy abre novos precedentes
depois de ter usufruído de outros. A licença de construção dá direito a uma indemnização
como prémio de “jogo” em caso de derrota. Nascerá com o habitual obscurantismo
que tende a acompanhar sempre os mesmos. Ter poder ou dinheiro é uma
responsabilidade, não um salvo-conduto.
Ao menos traz emprego? Claro que sim! Depois de construído faz sombra,
disputando quadros credenciados ou com experiência, em seguida socorre-se do
desemprego. A realidade volta ao mesmo com novos desempregos nos 3 e 4 estrelas
pelo dumping para encher o gigante. Só falta o “all-inclusive” para não
derramar sinergias na restauração local.
O Pestana Casino Park é um irritante vizinho. No atrium estão os
manuscritos de Óscar Niemeyer, comprometido com a qualidade e o respeito pelo
meio envolvente. Nele há até reparos às autoridades de então, coisa impensável
nos nossos dias ao serviço de um promotor:
“O projecto de um
hotel na Ilha da Madeira apresenta uma série de problemas fundamentais. Primeira,
as características do lugar, a beleza da ilha, seu aspeto pitoresco e acolhedor,
que cumpre proteger. Segundo, os problemas
que daí decorrem, problemas de gabinete, escala, visibilidade, etc.
Trata-se a meu ver
de problemas tão importantes que ao redigir esta explicação, sinto-me obrigado
a abordá-los, advertindo as autoridades locais da conveniência de estabelecer
medidas de protecção paisagística: fixação máxima de gabinetes, 4 pavimentos,
inclusive "pilotis", para os prédios de apartamentos; e 8 pavimentos,
inclusive "pilotis", para os edifícios especiais (hotéis, etc) que o
turismo exige. Proteção indispensável do panorama nas avenidas que contornam os
morros, evitando nas mesmas, construções que possam cortar a visibilidade (Des. 1), o mesmo
acontecendo com os edifícios mais extensos que não deverão, depois de
construídos, constituir como que um muro contra
a cidade (Des. 2). Óscar Niemeyer.
Paris, 22 de Junho de 1966.”
Croquis nos manuscritos de Óscar Niemeyer. Amplie. |
Arquitecto Viana de Lima |
A
“escola” de mérito Niemeyer venceu e foi implementada por um seguidor, o
arquitecto Viana de Lima. Desenvolvimento não
é volumetria, é harmonia, sempre. A Madeira vende paisagem e, por consequência,
a hotelaria usufrui dela. O Savoy terá o dobro do máximo sugerido por Óscar
Niemeyer para a nossa paisagem, estamos a trocar as ideias, vamos vender
hotelaria. A Madeira está a escolher o tipo de turismo que quer e o
preço que deseja cobrar. Os inimigos não são externos, aliás, o terrorismo tem
encaminhado novos turistas para o nosso destino.
Quando os grupos internacionais da hotelaria despertarem para a região,
vão querer um hotel igual ao Savoy, o precedente está aberto. O que irão
responder a essa pretensão? Deveríamos estar a trabalhar para ser paisagem património
mundial, lucrávamos mais, em vez de caminharmos para Benidorm. O turismo da
Madeira não é de imensos resorts com a pulseirinha para não sair do hotel, é de
deixar a mala e partir à descoberta dos valores patrimoniais naturais e
culturais que “vivem” neste secular contexto paisagístico de ambiência
pitoresca. De descobrir a singularidade, a raridade e a originalidade da Pérola
do Atlântico no mundo globalizado.
Cabe ao madeirense participar na opinião pública que
zela pelo verdadeiro interesse da sua terra. O seu tradicional medo, calculismo
ou ilusão de benesse geram sucesso nos prevaricadores. Vai a tempo de assinar a
petição para que haja um debate sério na ALR: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT79514
Sobreposição dos hotéis vistos do mar. Cobertura integral da paisagem. Amplie. |
Diário de Notícias do Funchal
Data: 29-02-2016
Data: 29-02-2016
Página: 7
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