situação dos nossos emigrantes
na Venezuela é de sobrevivência. Há crise humanitária, instabilidade política e violência num clima
de guerra civil latente, entre as forças de “segurança” com as fanáticas
milícias armadas de Maduro e o restante povo que bate o tacho coberto por tiros,
água e lacrimogéneo. Um quotidiano marcado pelo sequestrador da democracia e
chefe do “narcogoverno”.
A 1 de Abril deste ano arrancaram
os bloqueios por desobediência civil, exigem eleições e soluções. A comunidade
madeirense é particularmente afectada pois dedica-se ao comércio, expondo-se
aos tumultos sociais e às iradas intervenções estatais, aos saques e à violência
gratuita. O Governo Português, ao dizer que apoiará os nossos emigrantes na
recuperação dos seus negócios, para conter o fluxo de regressos a Portugal,
candidata os reticentes ao regresso a novas agressões que acabam em pilhagem,
incêndios e perda da vida. A economia contraiu cerca de 27% desde 2013, a inflação chegou aos 720%,
o país definha imparavelmente.
O Governo da República deve mover influências junto do Secretário Geral das Nações Unidas para uma visita à Venezuela, parte da solução imediata é sua, abrindo um corredor humanitário e aproveitando-se da situação da embaixadora dos EUA na ONU ter usado o 11º produtor mundial de petróleo para desviar as atenções do mundo sobre as acções de deliquência presidencial de Trump.
Com uma guerra civil latente é lógico que as
comunicações se compliquem. Quais as possibilidades de fuga se tudo complicar? O governo da Venezuela
deve quase 4 mil milhões de dólares às companhias aéreas internacionais,
fazendo desistir a Lufthansa, Alitalia, Air Canada, GOL e as Aerolíneas
Argentinas, entre outras. TAP e Ibéria, também com um acumulado de dívida
prosseguem, resolveram parte do problema com a venda de passagens pela internet
ou por agências de viagens em países terceiros com moeda forte. A permanência
do serviço da TAP é de registar mas parece sina de madeirense pagar os
voos mais inflacionados da companhia ao ponto dos emigrantes chegarem à Madeira
de cruzeiro. Se a situação se agudizar, nenhuma fuga ocorre em situação
ideal, é a conjuntura que determina as opções. Portugal, até informação
contrária, só consultou o governo brasileiro para o caso de uma eventual fuga
massiva mas, à volta da Venezuela temos a Colômbia a Oeste (castelhano), Brasil
a sul (português), Guiana a Este (inglês), as ilhas ABC (papiamentu e holandês)
e Trinidad e Tobago (inglês) a norte. Se as estradas e aeroportos forem bloqueados,
dificilmente chegam ao Brasil ou à Colômbia, pelo mar até Aruba são 28km na
distância mais curta, para Curaçau 67km, para Trinidad e Tobago 11km.
Em fórmula omissa do que interessa (colocar a salvo e
com autonomia os nossos refugiados, que o queiram, fora da Venezuela) o Governo
Regional decidiu criar uma solução passiva que designa por “Gabinete”, para facilitar
a acção e a inserção destes emigrantes portugueses SE chegarem à Madeira. Para que serve o Centro
de Apoio ao Emigrante na dependência do SRAPE? O GR
só se sente responsável aqui e aguarda que cheguem, pendurado de novo na
República e confiando num pró-forma de contacto com as autoridades venezuelanas
que não produzirá efeito porque já lhes chega a agonia do regime. Basta ver a
venda de obrigações no valor de 2.800 mil milhões de Dólares da Petróleos da
Venezuela por um valor inferior a um terço deste montante. A aflição é extrema e
mal dá para alimentar as condições que evitam uma rebelião de polícias e
militares que seguram o regime.
O maior problema dos emigrantes é a falta de
informação para decidir enquanto podem ou numa emergência maior, sobretudo os mais
reticentes, devido à inexistência de interessados na compra dos seus bens e sem
conseguir “sacar” o dinheiro do país. Como agilizar a burocracia de embaixadas
e consulados que levam meses a emitir documentos e que criam um mercado negro
onde um NIF gratuito aqui custa 300€ na Venezuela por exigência de um representante fiscal em
Portugal?
Estamos “de braços abertos” para os
nossos refugiados mas precisamos, aqui, de resolver umas ideias sem
hipocrisias. Em vez de recriminar alguns cidadãos revoltados que, mais
do que contestar, questionam a solidariedade, alguns governantes devem perceber
que no seu legado está a falência desta região com dupla austeridade. Muitas
vidas foram desterradas porque os erros foram trespassados ao “mexilhão”. A muitos
o estado não deu solidariedade, foram as famílias e o povo anónimo. Há pessoas
que não tiveram oportunidade e prosseguem a penar há vários anos sem soluções.
Há gente que não teve direito a qualquer apoio financeiro apesar de terem sido
contribuintes. Essas pessoas conhecem o valor da solidariedade, o que não
reconhecem é autoridade aos governantes para adjectivar. Mais do que falta de
solidariedade, não sabem dirigir a sua revolta a quem de direito. Os
governantes perderam casa? Carro? A dignidade? Sentiram vergonha? Viram-se
relegados por cunhas? Viram a sua formação não valer para nada? Foram
enxovalhados? Tiveram depressão? Foram ostracizados pela sociedade e pelo
estado? Foram perseguidos por bancos, justiça e agentes de execução como
resultado dos erros dos outros? Puseram termo à vida? O PSD-M teve uma nova
oportunidade após a falência da região, essa gente não, e vêem a bagunça da
nova governação que mentiu, para alcançar o poder, a se servir. O futuro trouxe
uma desagradável comparação de atitudes dos governantes para resultados
praticamente iguais de sofrimento e necessidade. Haverá equidade e soluções
para todos? Se não houver, estaremos a criar uma sociedade de revoltados numa
profusão de razões mal resolvidas.
A saúde regional não corresponde
aos madeirenses, o que fará o GR face a mais pressão dos que regressam
justamente por falta de assistência médica e medicamentosa da Venezuela? O governo
já transferiu a estrutura montada que disse estar disponível para os refugiados
do Mediterrâneo para os nossos refugiados? Há algo mais para oferecer do que a vazia Convenção sobre Segurança Social entre Portugal e a Venezuela?
Faltam
equipas pluridisciplinares com destreza na Venezuela, com capacidade de decisão,
poliglotas, de livre acesso a canais de comunicação com o Governo da República
e Regional para instruir in loco num auxílio
eficaz. Embaixada, consulados e Gabinetes não chegam.
Diário de Notícias do Funchal
Data: 10-06-2017
Página: 27
Link: Os nossos refugiados
Clique por favor para ampliar o recorte de imprensa:
Página: 27
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