Lição nº1: os elegíveis devem usar a inocuidade populista, ser
bons convivas, por vezes algo mais ... O Q.I. pouco importa, aliás em alguns
casos é um “handicap”. Deve orbitar os centros de decisão com um nome de
família que ajude, incrementando a proximidade à medida que se vislumbra um
vencedor. Também há os vencedores desaparecidos, em cima, nas salas vip.
Joga-se sem pudor e pode ser por equipas. Uma equipa pode
ter tantos cavalos quanto desejar, no fim da competição fica a “amizade” que
tudo une. Com o “win-win” presente, podemos ver o mesmo jogador a opinar de
forma contraditória, associar-se de forma irracional, numa paz alimentada pelo
sucesso de quase todos. Também se pode usar o contraproducente, é um género
para espertalhões, fazem-se difíceis. Jogam tudo no incómodo para lhes
comprarem o silêncio.
Nunca se ofereça, insinue-se. Há um empecilho mental geral nos
“croupiers”que o tornam num pedinte necessitado em vez de um veículo de
sucesso. Se caiu nesse erro, sente-se e assista, guarde o sucesso. Lembre-se de
que os jogadores inexperientes trazem instintos básicos e decisões errantes. O
ego enfraquece como tensão arterial elevada.
O poder não é tonto e também vai fazendo o seu jogo. Nunca
mostra as cartas, é mestre em bluff. Pergunta por todos mas quer saber de
poucos. Cada um coloca as suas palas e acha que vai ser como pensa, a cenoura balança
na frente, símbolo da ilusão que move montanhas, até ao momento crucial do voto
e da vitória.
Depois avança a incomunicabilidade, o atrito, a ridicularização, a etiqueta do
proscrito, as técnicas de afastamento para centrar a política aberta à
sociedade civil aos míseros de sempre. Baralhar e dar de novo mas, parece que o
baralho tem cartas repetidas. O povo sereno anda com um “déjà vu”. Os
indesejáveis desaparecem como as reclamações na TAP, por exaustão.
De tanto repetir o modelo, os partidos tradicionais vão se
esgotando perante uma opinião pública que aprendeu a ser tão cínica quanto eles.
As sondagens receiam e os partidos cada vez “ardem” mais trunfos para obter
resultados sofríveis.
Não é fácil começar a ser poder, parece um armazém depois de um sismo de 8.0 na
escala de Coerência Modificada. Por entre prateleiras, cunhas, amizades,
silenciamentos, carreiras, pedidos, jet 7, famílias, elites, ufa ufa ufa
“setop”… sai um arranjo obtuso que não deve ser do agrado de ninguém, muito
menos dos que sofrem as consequências.
Não fica espaço para gente sã, simplesmente sã, capaz e com ideias. Daqueles
que o povo sereno gosta. Se existe, aponta-se com o dedo e algum lobo vai papar.
Não é que esta gente não saiba estar em jogo, há simplesmente muitos mais que não
mudam o chip de tão adictos e dependentes deste feitiço da destreza.
Olhamos para o relógio, é tarde, o jogo absorve o nosso tempo
e o nosso espaço. Entretanto outro mundo correu em paralelo. De regresso
encontramos mais um mendigo que ali não estava, uma nova montra com papel de
jornal, uma moradia com um papel de tribunal, um casal que arrasta demasiadas
malas com uns velhinhos a choramingar. Essa emigração, tão do agrado dos
jogadores viciados, vai embora, leva os problemas de todos e não castiga com o
voto. O jogo é um passatempo estéril perante tamanhos problemas.
Apesar de tanta patada, este jogo não é de futebol mas,
todos dizem “a bola é minha”, sem colectivo para jogar. Assim definha Portugal,
win-win-fail. Amigos de ontem, desconhecidos de amanhã; necessários anteontem,
dispensáveis hoje; inimigos de há muito tempo, unha e carne desde há pouco; íntegros
de sempre, idiotas por necessidade. Não admira este jogo ter tantos
aficionados.
Se você
não percebeu nada, provavelmente está de boa saúde ou então, por decreto, já
não percebe português arcaico.
Diário de Notícias do FunchalData: 26-05-2015
Página: 15
Link: "O jogo da política: win-win-fail"
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